terça-feira, 24 de março de 2009

"O grande problema não é o que você não sabe. É o que você tem certeza que sabe, só que não é verdade" Mark Tubin

segunda-feira, 23 de março de 2009

Extraterrestre.

Como evitar a generalização de vários fatos? Por que o tudo que eu posso doar, muitas vezes não é o suficiente?? E não adianta, eu me entrego por inteira, mas não adianta, eles querem mais e eu não sei o quê. Ou sei... Confunde-se independência com descaso; persevarança num sonho com obsessão; amizades com traição. E o meu muito fica sendo pouco. E o meu tudo fica sendo nada.
Hoje, ao perguntar o por quê de tanto descuidado, recebi como resposta palavras que disseram-me que eu sempre deixei claro que não precisava de cuidados. E tirando as circunstâncias de raiva e orgulho do dono da boca da qual saíram tais palavras - talvez há um fundo de verdade, no mínimo uma má interpretação reconfortante, vista como verdade.
E mandam-me ir ao teatro, e dizem como uma sentença, sempre a mesma, martelando em seus cérebros a superioridade de macho: FICA COM O SEU TEATRO. Mandam-me ao teatro como quem me manda à merda. Ou à puta que pariu. Engraçado como a opinião faz o Deus e o Diabo. Lá vou eu à merda.
Acho que não sou daqui.

22/03 (Talitha Borges)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Indevidas

Num tapa estalatizante
Corada fica a madeira da face,
quase em combustão.
E a mão - antes película feminina,
rachaduras - quase - vulcânicas
Linhas da vida

Cabelos, antigas ondas singelas
Agora bóiam os tufos na água
arrancados sem esforço.

Com os dentes.


Cortes profundos
impura vingança
escorrem pelo corpo...
jurando ser groselha
as manchas
nos lençóis da esperança.

( Talitha Borges)

RESÍDUO

de Carlos Drummond de Andrade.

De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.


Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).


Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficam poucas
roupas, poucos véus rotos,
pouco, pouco, muito pouco.


Mas tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.


Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
de teu áspero silêncio
um pouco ficou um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.


Ficou um pouco de tudo
nos pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.


Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
em pouco de mim algures?
no consoante?
no poço


Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...


De tudo fica um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
do vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver...de aspirina.
De tudo ficou um pouco.


E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.


Mas tudo, terrível, fica um pouco.
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço do cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte de escarlate
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Aquarelas Rubras

Se queres medir a temperatura de alguém
encontre nela a boca
e saberás a intensidade de seus sonhos
e medos

A boca,
e não a lingua -
serpente fria quando quente.
A boca-carne,
boca-arte

Aquarelas rubras
de tons rosados
Poços
água, açúcar e fel.

Choque de termômetros
Rios levados ao mar.




segunda-feira, 9 de março de 2009

Alice

A vida lhe sorri
num instante ilusionário
Te traz num mergulho
em gotas e sal
um leque de cores imaginário.

Aceita e brinda
sua sorte até que finda
até que Alice - como manda o esquema -
esvair-se, só, num poema.




terça-feira, 3 de março de 2009

A paz. A pretensa paz. Ela vai chegar. E deve ser isso. Um ser nada no espaço. Um não achar nada de tudo. Cabelos desgrenhados em meio à multidão universitária e trabalhadora. Um caminhar em linha reta. Um instante entre dois segundos. Uma Era entre dois corpos.
O silêncio branco. A falta de memória: a paz, a pretensa paz. E ela vai chegar. Deve ser isso. A invisibilidade da ausência, mesmo presente.



(Talitha Borges)