Jasão
Você é viagem
sem volta, Joana, eu vou contar
pra você, sem rancor, sem sacanagem,
porque é que eu tinha que te abandonar
Você tem uma ânsia, um apetite
que me esgota. Ninguém pode viver
tendo que se empenhar até o limite
de suas forças, sempre, pra fazer
qualquer coisa. É no amor, é no trabalho,
é na conversa, você me exigia
inteiro, intenso, pra tudo, caralho...
Tinha que olhar pro céu e dar bom dia,
tinha que incendiar a cada abraço,
tinha que calcular cada pequeno
pequeno detalhe, cada gesto, cada passo,
que um cafezinho pode ser veneno
e um copo d água, copo de aguarrás
Só que, Joana, a vida também é jogo,
é samba, é piada, é risada, é paz
Pra você não, Joana, Você é fogo
Está sempre atiçando essa fogueira,
está sempre debruçada pro fundo
do poço, na esquina da ribanceira,
sempre na véspera do fim do mundo
Pra você não há pausa, nada é lento,
pra você tudo é hoje, agora, já
tudo é tudo, não há esquecimento,
não há descanso, nem morte não há
Pra você não existe dia santo
e cada segundo parece eterno
Foi por isso mesmo que eu te amei tanto,
porque, Joana, você é um inferno
Mas agora eu quero refresco, calma,
o que contigo nunca consegui,
nunca, nem um minuto. Já, com Alma
é diferente, relaxei, perdi
a ansiedade, ela fica ao lado, quieta
e a vida passa sem moer a gente.
Trecho extraído da peça teatral Gota d'água, de Chico Buarque e Paulo Pontes.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Desvio
Talvez elegância
Talvez um ledo engano
Talvez um fio solto
Talvez um parafuso a menos
Talvez a mais.
Talvez luxúria
Talvez orgulho
Talvez almas gêmeas
Talvez briga entre irmãs
Talvez filho único.
Talvez bruxaria.
Talvez feitiçaria.
Talvez me devolva em três dias.
Talvez Amor
Talvez apenas um pretexto para um livro de poesias.
Talvez destino
Talvez um caso de vida ou morte
Talvez outra vida.
Talvez outra morte
Talvez desatino.
Talvez sangue
Talvez groselha
Talvez vinho.
Sejá lá o que for,
Tinha uma pedra no meio do caminho.
Talvez um ledo engano
Talvez um fio solto
Talvez um parafuso a menos
Talvez a mais.
Talvez luxúria
Talvez orgulho
Talvez almas gêmeas
Talvez briga entre irmãs
Talvez filho único.
Talvez bruxaria.
Talvez feitiçaria.
Talvez me devolva em três dias.
Talvez Amor
Talvez apenas um pretexto para um livro de poesias.
Talvez destino
Talvez um caso de vida ou morte
Talvez outra vida.
Talvez outra morte
Talvez desatino.
Talvez sangue
Talvez groselha
Talvez vinho.
Sejá lá o que for,
Tinha uma pedra no meio do caminho.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Correndo por largas avenidas de contra-mão
olhos vendados pela dízima periódica
tecidos discretamente transparentes
pregando uma peça na morte metódica.
Poças de lágrimas
Escorregadias
insistentes em me convencer
que são o oposto do inverso
da quadrada alegria.
Pés chafurdados na lama
podre e doce de almas humanas
deixando-se contaminar, penetrar
pela epiderma semi-permeável
de um pensamento nada estável.
olhos vendados pela dízima periódica
tecidos discretamente transparentes
pregando uma peça na morte metódica.
Poças de lágrimas
Escorregadias
insistentes em me convencer
que são o oposto do inverso
da quadrada alegria.
Pés chafurdados na lama
podre e doce de almas humanas
deixando-se contaminar, penetrar
pela epiderma semi-permeável
de um pensamento nada estável.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Singelo
Há alguns dias atrás, ao terminar de ler um livro, me peguei a sentir uma falta quase que viciosa dele... uma necessidade. Percebo o quanto essas deliciosas junções de letras me tomam por completo. Ativa e passivamente. Engraçado até. Um vício. Às vezes para o bem, às vezes para o mal. Me levam ao encontro de mim mesma e à compreensão das pessoas, e outras vezes fazem me embolar em uma fuga, descompreendendo tudo e todos.
A imperfeição de não abranger tudo. A esperança de que isso ocorra. E isso não ocorre. E isso a mantém viva dentro de mim: não ocorre.
A imperfeição de não abranger tudo. A esperança de que isso ocorra. E isso não ocorre. E isso a mantém viva dentro de mim: não ocorre.
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