Folhas invadem a casa, milhões delas,
aos potes, aos solavancos e
recolhem-me do vazio.
Já o silêncio não querem mais,
arrastam-se num andar crocante
a me chamar pela fresta
da porta que por força abre.
Folhas invadem a casa, em festa,
milhões delas, secas de outono,
a lembrarem-me que não adianta raiz.
Arrastam-se na parede, a seduzir o vento,
que cedendo voa
bagunçando a mesa de papéis,
entupindo encanamentos e gavetas:
a pregar sustos
e despregar vertigens.
Folhas invadem a casa, bilhões delas,
secas de outono a lembrarem-me
que não adianta raiz.
Na madrugada
a garoa cai
sonora
a pedir que fiquem.
Singelamente e sem pesar
choram o seu pesar
quase orvalho
pelo vidro da janela.
Rindo, as folhas invadem
meu travesseiro numa gritaria
de insônia brincam.
E o sol, lá de longe,
cansado da longa volta ao mundo volta,
e com ele luz e pássaros
Irrompem pela grama
colorindo a sala de azul
à procura de minhas invasoras
que de medo amarelam.
Contrariadas,
Amontoadas, viram ninho
sobre galhos verdes de verão:
a lembrarem-se de que há raiz.