quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A poeta e sua verdade








Num dia sereia.
No outro serei.







quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Outono







Folhas invadem a casa, milhões delas,
aos potes, aos solavancos e
recolhem-me do vazio.

Já o silêncio não querem mais,
arrastam-se num andar crocante
a me chamar pela fresta
da porta que por força abre.

Folhas invadem a casa, em festa,
milhões delas, secas de outono,
a lembrarem-me que não adianta raiz.

Arrastam-se na parede, a seduzir o vento,
que cedendo voa
bagunçando a mesa de papéis,
entupindo encanamentos e  gavetas:
a pregar sustos
e despregar vertigens.

Folhas invadem a casa, bilhões delas,
secas de outono a lembrarem-me
que não adianta raiz.

Na madrugada
a garoa cai
sonora
a pedir que fiquem.

Singelamente e sem pesar
choram o seu pesar
quase orvalho
pelo vidro da janela.

Rindo, as folhas invadem
meu travesseiro numa gritaria
de insônia brincam.

E o sol, lá de longe,
cansado da longa volta ao mundo volta,
e com ele luz e pássaros

Irrompem pela grama
colorindo a sala de azul
à procura de minhas invasoras
que de medo amarelam.

Contrariadas,
Amontoadas, viram ninho
sobre galhos verdes de verão:
a lembrarem-se de que há raiz.