Retratado está,
Nota-se a um básico
Folhear de didáticos
E biográficos:
Uma gravidade pousada
Em uma torrada de geléia,
E uma fresta de sol
Pela janela aberta.
A ajeitar os óculos
Que lhe dão certa importância,
Afinal – é o que dizem –
Olhos letrados cansam, menino!
Vai lê lá fora!
Mas lá fora
ninguém lê,
passa pra cá essa bola.
Retratado está,
A um folhear de superfície
Em suas cartas antigas:
Uma filosofia heroica, apaixonada
E nunca vã
Entre um apertar de botões e
Outro de moças.
Que enfim lhe apertavam
Mesmo era o coração
Saltado em versos:
Que sobremesa... o guardanapo.
Retratado está,
A um observar de muros
De sua cidade abandonada
pelo ontem:
Excitado pela malandragem
Pinta à tinta frases repetidas
E frescas de emoção –spray
Que cai
Menos pelo desejo do risco
De ser enfim autor clandestino
Mais pelo som metálico
Pela cura da surdez da noite.
Retratado está,
Jogado de rede,
Entre faces e fotos de invento
Arrisca pequenas frases no intento
De algo dizer.
Mas tudo é tão dito – reedito:
Inaudito.
Refratado está suas palavras.
Que decidiu manchar de geléia as paredes
Distribuir guardanapos com marcas de batom
E derrubar muros.