I.
Hoje eu
acordei!
Só, mas
não apenas,
Hoje eu
acordei, sozinha. Me naturalizei, sob os múltiplos sóis da janela.
Hoje
acordei sozinha, despertei o despertador que me apartava, descobri o anzol que
me aparava:
Eu estava
sozinha, sozinha, como um diminutivo carinhoso da solidão, sozinha,
Só, mas
não apenas.
O
silêncio se fez presente e o desembrulhei com a expectativa de quem espera há
muito o caminho para a integridade, a soltura sob a luz, a abertura.
Uma
imensidão de mundo tomou-me, o espaço tornou-se amigo, abrigo cheio de ar,
combustível do fogo que há. A imensidão do mundo
tomou-me, fui delicadamente sorvida, morna, fui curada da
ferida, aquela que ontem me fazia dormente.
Hoje eu
acordei.
Desfizeram-se
os imóveis travesseiros de minha travessia e
A vida,
inteira, fez-me companhia.
II.
O tempo
poderia ser mais do que uma espera? Mais do que hora que prossegue? Mais do que
o jogo da memória? Mais do que a aposta na demora?
Sim, o
tempo é agora.
Joguei as
penas que me pesavam no precipício: logo joguei-me atrás delas,
Descobri que
as penas não me pesavam tanto - respirei um riso branco -
Eram
companheiras das asas, e dos olhos a água de quem vive este tanto, esta águia,
este canto,
Matéria
de anjos questionadores.
A fundura da vida mede-se pela distância que estamos da
terra?
É preciso crescer, aterrissar, morrer?
Morrer é ser semente, semente da vida mordente na
continuação, é ser um lembrete?
Uma metáfora, um macete?
Deus?
A vida,
contínua, vazia-me companhia.