domingo, 27 de julho de 2014

Distraída

  
                                                            


É preciso distrair-se para não trair-se. Ela disse-me um dia, e que gostava de jogar as cartas com o acaso, experimentar a vida puríssima, guardar as camisinhas no pote de agulhas. Pregar peças, deixar espaço para o acaso, que o acaso é Deus.
Uma santa! Toda ela à serviço do Senhor.
Que distraída, não seria nunca traída. Distraía-se para não trair-se. Não obrigava-se a nada e eu fui obrigada a acreditar nela. Assim é verdadeira fé: da incerteza a fagulha, do amor a agulha.

            Em agradecimento, lhe fiz um altar onde havia corrente ar, escadas para tropeçar e a base frágil a capengar.