sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A bruxa ou A conciliação


Para Aline Pinoti





Foge, melhor para você, rapaz.
Esconda-se, camufle-se, melhor para você.
Disfarça, finja que não nota o disfarce, vive.
Vire esses olhos para todas as outras, melhor.
Corra enquanto puder distinguir muros e árvores.

Corra enquanto consegue, estou no escuro, juro, e
Sou feia como a última bruxa que comeu a sua mãe
Antes de tê-lo, serás meu e não há como não sê-lo.

Corra, pobre, que o mundo acaba...
Acredita na redondeza dessa morada?
Acabará num canto peludo,
No canto dos cantos e
Me dará os cânticos.

Corra, rapaz, por enquanto...
Pois quando cansar e mergulhar
Esses olhos inventados em ti, eu
Ei de comer-te, engolir-te
Sem mastigar-te e tu sentirá os aromas de Marte

Onde a incerteza da vida faz parte.
Onde a lonjura há de abrigar-te.
Onde hás de morrer,
Pois todo o resto será descarte.

Vem, que te faço parte.


sábado, 1 de outubro de 2016







Guardar para si
Se chama
Administrar as palavras,
A lama,
A lava,
A chama.


Sê calor,
Aquece,
Assa,
Ama
Se chama
Guardar para si a chama.










Guarda para si as palavras de ouro, sê a medida.
Administra os teus sentidos ocultos, pois são ocultos:
Embale os segredos, campos de florzinhas ordinárias.
Não aponte tanto as flores, sê jardim.

Guarda para si as palavras de ouro, as moedas de prata,
E administra sob o sol o bronze.
Nas camadas de luz, na reflexão acamada de luz
Sê a própria terra, guarda o que é seu.
Planta.

Sê aroma, sugestão,
Sê impressão e certeza sem som.

E cresce.