sábado, 4 de fevereiro de 2017



É assim: mal começo, a folha já me pesa às costas, 
e começo a pensar se devo mesmo escrever,
"porque são analfabetas as folhas de papel"... 








                                                                                         .      
                                                                                .
A culpa das coisas inúteis paira no ar.
Sim, paira no ar: acaso poderei eu deixar de respirar?

Paira no ar que respiro...  um olho que não vê.
A culpa das coisas inúteis paira no ar, mas também paira no ar essa folha que lê
A culpa das coisas inúteis:
Seus valores inenarráveis - presos em si,
O tempo perdido - em que me encontro,
O achado - que não pode ser roubado,
As coisas que lucram um centavo do real - sendo o próprio ouro.

Paira no ar, quase sempre, o abandono do lar,
O sucessivo desânimo das coisas que deixarão de acordar, 
O cansaço, a falta de ar. De fato
A inspiração está sob suspeita e, mesmo assim, diante do forte,
eu não deixarei de respirar:

Quem dará ânimo às coisas inanimadas?
O que irá me animar?