É
assim: mal começo, a folha já me pesa às costas,
e começo a pensar se devo
mesmo escrever,
"porque são analfabetas as folhas de papel"...
"porque são analfabetas as folhas de papel"...
.
.
A culpa das coisas inúteis paira no ar.
Sim, paira no ar: acaso poderei eu deixar de respirar?
A culpa das coisas inúteis paira no ar.
Sim, paira no ar: acaso poderei eu deixar de respirar?
Paira no ar que respiro... um olho que não vê.
A culpa das coisas inúteis paira no ar, mas também paira no
ar essa folha que lê
A culpa das coisas inúteis:
Seus valores inenarráveis - presos em si,
Seus valores inenarráveis - presos em si,
O tempo perdido - em que me encontro,
O achado - que não pode ser roubado,
As coisas que lucram um centavo do
real - sendo o próprio ouro.
Paira no ar, quase sempre, o abandono do lar,
O sucessivo desânimo das coisas que deixarão de
acordar,
O cansaço, a falta de ar. De fato
A inspiração está sob suspeita e, mesmo assim, diante do forte,
eu não deixarei de respirar:
Quem dará ânimo às coisas inanimadas?
O que irá me animar?
O que irá me animar?