Mil e um personagens moram na minha boca, eu, tratada como oca, a profundidade do vazio, o grande nada que quer ser e é na minha língua de louca. Aqui tudo tem vez, mas é preciso ir com calma, pois os ouvidos são de louça. A palavra de quem falará em minha boca? A palavra do boçal, sem bocal, nem limites? da grossura, da doçura do sal no cuspe do desafogado? do desaforado? da palavra da sorte, das porções de alegria ou de morte? das canções de meio-dia? do sonho que é estar acordado ou da verdade que faz descansar? Mil e um personagens moram na minha boca, a profundidade do vazio, do grande nada que quer ser e é na minha língua de louca, moça, ouça a Onça e A palavra de quem fala em sua boca. Teremos boas novas ou muda, muda, muda e fixa? A palavra de quem falhará a minha boca? A palavra de quem talhará sulcos nesse silêncio? A palavra de quem falará em minha boca? Com as minhas mãos escrevi a palavra boca e com a boca: silêncio com medo de errar – eu tinha me esquecido que a falha da minha boca me permite falar.