Enterrei o meu sonho, e acharam que
eu estava velando um morto: eu estava plantando uma semente, içando a vela de
um barco, no porto, ganhando corpo, me inspirando com as mensagens do possível
velejador (eu podia ouvir a sua outra terra à vista). Acharam que
eu estava chorando. É claro: não se pode evitar que brotem nos olhos as
lembranças do mar, especialmente durante a plantação dos barcos - sementes
buscadas nos charcos, nas telhas, nos chamados das abelhas, nos pássaros de
asas quebradas também, eu vou lá, carregar a centelha da navegação, na panela a
boia fria e a carne de sol. No sonho o jejum e a fartura de peixes, que
pularão em minha rede, para que eu os devolva ao mar.
Eu não
estava chorando, eu estava regando a terra, doce inclinação, enquanto do lado
de dentro chorava a vela, lágrima dura e quente, longa e escaravelha promessa
do meu corpo na caravela, eriçado velejar, sal correndo nas veias. Quem me olha
as unhas de terra não sabe que pertenço ao mar, ainda criança dei a luz a um
peixe, em segredo, mãe e esposa de marinheiros.
Caminhei por essas terras plantando barcos desde muito sempre, e essa é a primeira vez que acontece, assim, a navalha do futuro cortando água, a brasa do sal sendo refresco: olhei calma para o horizonte, e pela primeira vez, meu barco não virou.
Caminhei por essas terras plantando barcos desde muito sempre, e essa é a primeira vez que acontece, assim, a navalha do futuro cortando água, a brasa do sal sendo refresco: olhei calma para o horizonte, e pela primeira vez, meu barco não virou.
Virei a mesa
do passado.
A vida reflorestada, sombreada e fresca - com os cabelos ainda escuros. Que interessante, vou clareá-los sob a vida marítima.
A vida reflorestada, sombreada e fresca - com os cabelos ainda escuros. Que interessante, vou clareá-los sob a vida marítima.
Meus barcos
estão cheios de flores, minha árvore está cheia de peixes. E isso nos mostra
que aparentemente nada está resolvido, mas o sal está dissolvido na água do mar
(e mesmo assim não deixam de existir as suas implicações), bem como o sol que
brilha na lua: por isso já parei de crer apenas na aparência das palavras, elas
nunca estão nuas, e tudo bem. Parece divertido, a procura por razão, sem
guardar mágoas de interpretação.
Não tentem me convencer de nada, enfim nadarei, eu também não tentarei convecê-los, afinal convém a cada um sê-lo e não selos. Cuidado com a tentação.
Não tentem me convencer de nada, enfim nadarei, eu também não tentarei convecê-los, afinal convém a cada um sê-lo e não selos. Cuidado com a tentação.
Prevejo
fortes ondas de sugestão.