Às vezes é sempre.
Às vezes vamos até as profundezas, sim: vamos. Já que estou aqui, melhor aproveitar o terreno. Vamos até as profundezas, seja do que for, mas sempre é de nós mesmos, da humanidade, igual.
Às vezes vamos até as profundezas e voltamos com notícias sombrias, densas, insuportáveis e até insultos, que são, na verdade, indultos. Tudo existe e é como se abríssemos um garrafa de escuridão e deixássemos ela espalhar-se, apresentar-se, na verdade, em comum acordo com a leveza. Artes, meus amigos! Vamos até lá nas profundezas e voltamos ostentando penugens de mofo e antiguidades, peças de museu, máscaras grotescas grandiosas, um desfile de estranhamentos, dores e odores que revelamos tal qual fotografias, à moda antiga. Honrando toda a História, olhando o caroço, sentimo-nos honrados, e de certo modo há luz.
Outras vezes, por outros vieses, vamos até as profundezas e ao sairmos de lá, secretos, o sol nos secreta e brilha com mais intensidade, tudo é mais brilhante e belo do que antes: vemos a riqueza do contraste, e de tão abundante queremos cantar e exaltar a luz, que tudo existe! soprando dentro da garrafa as lembranças da claridade, o sopro do futuro. Essas são as vezes em que vamos lá e toda dureza e densidade nos dão firmeza para fazer o caminho de volta, de volta ao bom lugar, à boa estrada e a tudo que você quer cantar e recontar, as flores, os animais, o amor, a boa camaradagem, o fundo do poço de água límpida..
Melhor aprender a nadar.
Melhor aprender a nadar.