quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Leves profundezas




Às vezes é sempre.



        Às vezes vamos até as profundezas, sim: vamos. Já que estou aqui, melhor aproveitar o terreno.  Vamos até as profundezas, seja do que for, mas sempre é de nós mesmos, da humanidade, igual.
        Às vezes vamos até as profundezas e voltamos com notícias sombrias, densas, insuportáveis e até insultos, que são, na verdade, indultos. Tudo existe e é como se abríssemos um garrafa de escuridão e deixássemos ela espalhar-se, apresentar-se, na verdade, em comum acordo com a leveza. Artes, meus amigos! Vamos até lá nas profundezas e voltamos ostentando penugens de mofo e antiguidades, peças de museu, máscaras grotescas grandiosas, um desfile de estranhamentos, dores e odores que revelamos tal qual fotografias, à moda antiga. Honrando toda a História, olhando o caroço, sentimo-nos honrados, e de certo modo há luz.
       Outras vezes, por outros vieses, vamos até as profundezas e ao sairmos de lá, secretos, o sol nos secreta e brilha com mais intensidade, tudo é mais brilhante e belo do que antes: vemos a riqueza do contraste, e de tão abundante queremos cantar e exaltar a luz, que tudo existe! soprando dentro da garrafa as lembranças da claridade, o sopro do futuro. Essas são as vezes em que vamos lá e toda dureza e densidade nos dão firmeza para fazer o caminho de volta, de volta ao bom lugar, à boa estrada e a tudo que você quer cantar e recontar, as flores, os animais, o amor, a boa camaradagem, o fundo do poço de água límpida..

       Melhor aprender a nadar.



        

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

















Se você não consegue livrar-se da culpa de ser quem és
(Digna, cheia de beleza interior e amor por todos os seres)


Ao menos
Execute seus crimes hediondos, cruéis,
as sem medida e estupefatas
simplicidades bárbaras
(finja fatalidades)
- Honra teu crime de ser quem és.

Dança!

Há criminosos de péssimas intenções:
Sê tu a exceção.





quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Um dia





Um dia traçarei um traço simples e puro.
hoje ainda tenho receios e anseios (quase a mesma coisa)
hoje ainda preciso ir buscar, desenterrar, lutar contra o tempo,
botar fogo em tudo para escrever, palavra de demolição,
atiro bombas no meu estado de exceção, ainda grito os meus direitos,
o traço dramático, o grito de dependência.

Um dia traçarei meu plano simples,
riacho feliz de correr para o mar
que até esquece que está indo embora.

(Ainda me escondo, me escombro, me assombro
- e só depois aceno! Que fado!)