domingo, 29 de dezembro de 2019

Bem dito

 Cara feia para mim é nome.





Coberto de lixo,
de sujeira,
das sujeiras
de todos
os anos,
de todos
os tempos,
despropósitos, datas vencidas, abandonos, porão dos pretéritos,
cavalga nos cordões do aborto,
e grita impropérios, translúcido:
Esse é meu império!
Em pé, soldados e sentidos!
Eu fui coroado rei e vocês são meus súditos!
Maus súditos, malditos sãos! Sujos! 
Já se esqueceram de mim? Ingratidão!

Por que me ignoram?
Sou mau? Maltrapilho?
Vistam-me do eterno de linho, então
E retirem-se do meu jardim,
é proibido pisar na grama.
Por isso me deito.

O cúmulo dos anos choveu sobre mim,
Por isso o céu está limpo para vocês,
Mas EU não vejo o sol.
As pombas ciscam o meu fim,
Evitando que eu me acabe.

Sou osso duro de roer,
Nem a terra me há de comer,
que sou o dono da fome, mando e desmamo
e não há outro nome além d´Homem,
que eu nunca fui um bebê.

Esse é meu império!
Retirem-se do meu jardim.
Por que me ignoram? De nojo e de novo?
Caminham sobre a minha cama,
no meu cômodo não tem hora,
tudo para mim é incômodo, e você é que chora?

Cuidem, pois se eu não pedir, vocês não podem impedir:
Eu brinco de reorganizar os destinos
mexendo na lata de lixo: é melhor 
me alimentar... 










quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Tristeza







Chamaram-me galinha.
- Será que avistam a olhos vistos
todas as minhas penas?
Tristinha, tristinha... coitadinha.

Chocada.
- Será que me colocaram penas onde ainda não tinha?