domingo, 22 de novembro de 2020

Tempestade

 


O momento anterior à tempestade: eu recebo-o como uma promessa de tudo ser temporal, como uma oportunidade: a esperança de tudo o que for fraco sucumbir. É como o anúncio da batalha, da derrota e da vitória, tudo ao mesmo tempo, encerrando um sentimento fantástico, que me encanta ao som da guerra. É a premonição. O anúncio. Sabe, os ventos da mudança sempre sopram, às vezes baixinho, brisa cautelosa que você finge que disfarça, chupando balas de calibre alto para ninguém saber quem é você, mas quando os ventos sopram fortes você tem que correr ou dizer a que veio - se tem confiança de ser posto à prova.

Crer que as árvores não cairão sobre você, e que se por acaso cair, a coisa não vai ser necessariamente ruim.

Munido de forças interiores, arriscar-se às transparências e aos transbordamentos de tudo, deixar voar as telhas soltas - participar dos sorteios. O momento anterior à tempestade eu recebo como uma promessa de tudo ser temporal, como uma oportunidade, a esperança de tudo o que for fraco sucumbir e não existir inocentes. A sorte grande, o pequeno azar, os riscos de vida, a queda de alguns cenários, os bonecos partidos, a coragem de mãos dadas com o medo, um singelo casal passa correndo sem armas – quase todos forasteiros, que ninguém sabe quando chegam.

Sinto um suave respeito pela graça dos redemoinhos e reparo neles como quem vê os mistérios ou um bebê. Que graça! Enquanto chove tudo é mais rápido, ah, o tempo das águas em que tudo flui, é a hora das conduções. É preciso estar sempre pronto, que a água tem autorização dos céus, então, já viu, é hora de se firmar (não se afirmar). Quem não sabe o que fazer, fica como quem vem de longe e chega em terra transtornada: entra na espelunca, ante os desmoronamentos enfia a cabeça dentro da terra e é levado pelas águas! A natureza vai passar por cima... A queda das fraquezas materiais e morais anuncia, indiretamente, o levante das fortalezas após os ventos da mudança. Isso tudo, sinto em meu espírito de seleção.

Na ventania as portas batem, que susto! Estavam abertas!

E se fracas forem as virtudes, e fortes as vicitudes? Quem vai saber? O momento anterior à tempestade: recebo-o como uma promessa de tudo ser temporal. Respiro fundo e vou olhar lá fora, o dia escurece antes da hora, na falta de luz a natureza vai passar por cima... Isso tudo sinto em meu espírito enquanto levanta ou desmorona minhas fortalezas.

Abro e fecho as janelas, deixando frestas para raios e rifles, na imprópria festa de coroação da própria fé. 

Que chova!

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Houve!

 





Houve!
Olvida...

Ouvi
A vi
A vida
A vida acaba
A vida acaba de ficar.
Caqui.