I.
Fui moída pela vida.
Assada, comida, carcomida, doida,
moída de pedra, palitada, esquecida
entre dentes, acabada. Decomposta,
desossada, revistada, desenterrada,
debatida, esfarelada aos pombos, aos tombos
fui moída. pelos mistérios das idas e vindas.
Por não saber e por ser sabida...
Fui moída:
tive que me recompor
E o mundo já não é mais o mesmo.
II.
À noite, enquanto me despedia
deitei na caixa de flores, cedi
diante das rainhas, da beleza
das cores, a água salgada
corria brilhante: eu também,
plena e linda, estava cortada.
Servil da alegria, da doçura, do dia,
na noite do dia em que se pode chorar.
E fui até nunca mais.
III.
Em estado de foi-se
(Aquele verso que me mata, fico caída no chão
Mais viva do que antes.)
IV.
Observar a arte dos coveiros:
Cavar o suficiente, nem raso, nem fundo,
ser discreto (jamais escandalizar).
Jogar tudo pro alto. Pra poder enterrar.