domingo, 24 de janeiro de 2021

Na savana

 





O leão pisou em mim
e eu agarrei as suas patas,
Carnívora, e o mordi,
como quem diz:

Não estamos todos fingindo?




sábado, 16 de janeiro de 2021



Vão dizer que estou perdida...
aqueles que não me encontram.

(Que não me toquem,
que não me contem,
que joguem para o outro lado
as suas esmolas, as suas migalhas,
seus remédios sem consulta, catapulta!)

Eu mesma fio a minha mortalha
Eu mesma entrego-me às medalhas
Eu mesma varro as migalhas caídas do farto banquete
oferecido aos companheiros reais.

Grande é o meu tesouro.
Tudo que eu disser será usado a meu favor.

Que não me encontrem 
aqueles que disserem que estou perdida.



Optchá!



domingo, 3 de janeiro de 2021

Ensaios sobre a morte

 



 I.   



Fui moída pela vida.

Assada, comida, carcomida, doida,
moída de pedra, palitada, esquecida
entre dentes, acabada. Decomposta,
desossada, revistada, desenterrada,
debatida, esfarelada aos pombos, aos tombos
fui moída. pelos mistérios das idas e vindas.
Por não saber e por ser sabida...
Fui moída:
tive que me recompor

E o mundo já não é mais o mesmo.




     II.


À noite, enquanto me despedia
deitei na caixa de flores, cedi 
diante das rainhas, da beleza
das cores, a água salgada
corria brilhante: eu também,
plena e linda, estava cortada.

Servil da alegria, da doçura, do dia,
na noite do dia em que se pode chorar.

E fui até nunca mais. 




III.



Em estado de foi-se

(Aquele verso que me mata, fico caída no chão
Mais viva do que antes.)




IV.



Observar a arte dos coveiros:
Cavar o suficiente, nem raso, nem fundo,
ser discreto (jamais escandalizar).

Jogar tudo pro alto. Pra poder enterrar.