Para Gracy Morais
A arte, nas Artes, é a arte de continuar fazendo, aperfeiçoando, elaborando, continuar fazendo. É relacionar-se com o fazer material da linguagem, mas é também se relacionar com o contexto cultural (ou recorte) em que se está inserido, suas circunstâncias e em quais circunstâncias trabalha e faz a arte. Trabalhar com a arte envolve buscar possibilidades de prosseguir e mais do que buscar, é prosseguir fazendo, como pode e quanto pode. É isso a que referem-se os artistas quando falam de vocação ou necessidade: é que continuar fazendo faz sentido e é o próprio sentido em si. É como um fiozinho que você puxa uma vez e de onde veio aquele fio tem muito mais, fios infinitos que você quer puxar, desatar os nós, costurar, bordar e descobrir os mecanismos de continuar. Assim como a arte de viver, prosseguir. A própria vida e a vida própria.
São muitas as circunstâncias, infinitos caminhos e possibilidades, várias necessidades clamam, diversas coisas nos acontecem, somos surpreendidos para além dos desejos e dos planos, necessidades materiais, diálogos e conflitos com a cultura local, nosso mundo interior e tantas forças não nomeadas... mas por fim, cá estamos e fios que puxamos nos puxam à continuação dos trabalhos... simples. Tem sempre um sentido de detalhe... mesmo se for uma força vigorosa que nos move, sempre um sentido amoroso de detalhe.. uma peça, um recorte, um quadro, um verso, uma estrofe, uma história, uma foto, uma canção, uma melodia, uma parte, um movimento, um boneco, uma solução plástica, uma pincelada, um detalhe. Chamar algo de arte é dar-lhe uma sentido de detalhe, de cuidado, de aperfeiçoamento e continuação cuidadosa, se fidelizando como aprendiz e relembrando o sentido íntimo da palavra artesão.
E isso pode se estender à outras práticas, que envolvem a continuação, o detalhamento e o aprendizado, como a jardinagem, por exemplo, e tantas outras artes em que seus praticantes o sabem: práticas que envolvam esse tipo de afeto, relacionamento e considerações técnicas a cerca de um fazer e continuar fazendo e manuseando matérias e linguagens, que nos revelam seus saberes enquanto manuseamos, e a eles nos entregamos com amor.