sábado, 11 de novembro de 2023

 

                                                                                                                                          



Abdico de todos os adjetivos que você me deu. Absolutamente e Absurdamente, obsoleta, vim a óbito. Sou mortal, sou mortífera. Se eu disser que sou o fim, você chegará perto de mim? 

"Mequetrefe, Malagueta, Mala sem alça, Alça sem mala, Maçaneta, Perigosa, Perneta, Trêsteta, Caçapava, Querubina, Carabina, Binaural, Inconclusiva, Eterna, bam-bam-bam.

Se eu disser que eu sou o começo, você vai pagar o preço? 

Revestida de cetim, representante do presente, pirilampa, pitoresca, bala na gulha, maledeta, macambúzia, macumbeira, suburbana, castiçal, casca grosa, camafeu, melindrosa, capitã, verdadeira, charlatã, duas caras, menestrel. Mulher da vida, gente fina, boazinha, boazuda, boca aberta, fofoqueira, piá, cigana, futurista, cadela, mamãezinha. Ratazana, rim-tim-tim, corna, necas de pitibiriba, caquética, à queima roupa, colibri (só quero esse). Crente, temente, tenente, repentina, serpentina, cajibrina, peste, confeiteira, cafetina, cafeteira, noturna, matinal, vespertina, veiculada, na boca do polvo, pegajosa, libertária, libertina, literal, levinha, solteira, total, carrancuda, catuaba, catacumba!

Se eu disser que sou o meio...


Vão dizer que não tenho fim.







segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Vísceras

 





Por aqui apenas vísceras.
Sem política, sem politicagem
apenas vísceras, crueza
tomando lições de crueldade
sem marketing, sem publicidade
beleza ou unanimidade
temperatura quente da presença
boca, narina e uma vagina de profundidade
ou reto acesso e absesso
no olho do pus resseto.

Por aqui apenas vísceras,
parênquimas, fluxo e glândula
em perfeito funcionamento
da clavícula e da veia cava

- não da fábula.

O sim a fístula, do coração,
o grande sim do coração que continua mesmo se for de um grandecíssimo filho da puta ou do ideal moral,
na verdade dá no mesmo.

Por aqui apenas vísceras,
não ser mais simpática, ser parassimpatica.





[Tem dias que é preciso deixar falar a crueldade, ouvir o chamado das vísceras gritando para que algo seja tratado com rigor.]




sábado, 2 de setembro de 2023

Partilha





A coisa acontece assim: alguma coisa move e na busca, um insight vem, uma pequena imagem metafórica que ilumina o caminho do começo ou do fim, e para prosseguir é preciso um decisão: partilhar. Ou, registrar. Porque afinal, aquela imagem traduz algo e já produziu seu efeito em si, por isso é necessário a intenção de partilhar para prosseguir. Partilhar, registrar ou desenvolver. Munido de uma dessas decisões ou de todas elas, vamos à escrita. Quem escreve está falando. E não precisa ser poeta, não. Quem escreve está falando com alguém. Daí a escrita conter a diluição da solidão e o gérmen da generosidade. É uma voz. 

Depois do insight, a intenção, o fluxo e o trabalho, de artesão. Deixar fluir, deixar escolher, deixar escorrer ou escrever às pinceladas, deixar ser colhido e colher. Gosto dessa aproximação da escrita com a pintura. É um jeito de fazer pintura. Hahaha. Escrever. Falar e deixar falar. Conduzir e ser conduzido. Essa é a parte mais desafiadora. Ao menos, para mim. É arriscado, sinto. Pois enveredamos pelo inconsciente. Uf. É capaz de fazer jogar todo pro alto. Ressoar.

Depois, partilhar, partilhar. E como escrever é falar, escolho dar corpo a elas, falando em voz alta, apresentando e me apresentando. Então, mais trabalho, ler e ler, memorizar, sentir, deixar orgânico, sentir o ritmo e se apresentar. Ficar tranquila para falar e deixar falar, é todo um exercício. Às vezes não consigo. Mas isso é julgamento meu, pois sempre diz e é importante dizer. O que importa é o alinhamento dentro, um ponto central que garanta a frequência e confiança durante o trabalho artesanal e durante a exposição também. Confia!

   

sábado, 20 de maio de 2023

Nem tudo são flores




Nem tudo são flores!
Tem de tudo.

- e de tudo floresce,
até você, peste.





Às vezes é dureza aceitar a variedade. 
Nem tudo são flores, às vezes são folhas! 
(raízes, sementes, galhos, formigas, 
abelhas, pólens e floemas, terra e céu,
 
frutos, verdes ou maduros, pseudofrutos
e aqueles que não se sabe, e aqueles não se vê...
Pássaros, ovos, cobras - inofensivas ou venenosas, 
não reprovarei as diferenças, 
mas não sairei a procura de espinhos, contemplo, sei que existe. 

E de tudo existe. Nem tudo são flores, às vezes são folhas! Têm os poemas, e os leões que rasgam os poemas. Para que escreva outro.

Às vezes é mato seco, mas mato não nasce seco - num dia são folhas verdes, noutro dia esterco, e veja você bem ou não, em qualquer lugar do mundo, os insetos se intrometem, vermes, mofo, e a rebentação das baratinhas e das baratonas noturnas, cupins silenciosos celebrando a abundância que também lhes compete: a existência!

Nem tudo são flores, querida, e ainda assim, farás o seu melhor. 
Às vezes um detalhe, às vezes um escândalo, 
sendo você mesma, uma floresta.

Reintegre-se à realidade, sem se excluir, nem a excluir. 
Sabendo que a Perfeição está tranquila, e continuando a caminhar, prossegue. 
E a Imperfeição se revira no túmulo do que não consegue.

Tudo são flores.
Faça bom proveito.
    


sexta-feira, 7 de abril de 2023

Amuleto

 


                     

Com fiança,
Com fiar,
Com fia,
Com afia...

Firmeza e fineza, fia.

                      






quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

A serpente

 




Vês, como rasteja a serpente?
Vês?
Mas não pensa que rasteja como tu pensas,
ela não está no chão, como tu pensas, 
ela está no alto.

Não te esfregues rastejantes, pensando que tu és uma serpente, que ela está no alto!
Ela não está no chão, como tu pensas, quadrúpede, ela está em seu mais alto nível, 
o próprio.