sábado, 2 de setembro de 2023

Partilha





A coisa acontece assim: alguma coisa move e na busca, um insight vem, uma pequena imagem metafórica que ilumina o caminho do começo ou do fim, e para prosseguir é preciso um decisão: partilhar. Ou, registrar. Porque afinal, aquela imagem traduz algo e já produziu seu efeito em si, por isso é necessário a intenção de partilhar para prosseguir. Partilhar, registrar ou desenvolver. Munido de uma dessas decisões ou de todas elas, vamos à escrita. Quem escreve está falando. E não precisa ser poeta, não. Quem escreve está falando com alguém. Daí a escrita conter a diluição da solidão e o gérmen da generosidade. É uma voz. 

Depois do insight, a intenção, o fluxo e o trabalho, de artesão. Deixar fluir, deixar escolher, deixar escorrer ou escrever às pinceladas, deixar ser colhido e colher. Gosto dessa aproximação da escrita com a pintura. É um jeito de fazer pintura. Hahaha. Escrever. Falar e deixar falar. Conduzir e ser conduzido. Essa é a parte mais desafiadora. Ao menos, para mim. É arriscado, sinto. Pois enveredamos pelo inconsciente. Uf. É capaz de fazer jogar todo pro alto. Ressoar.

Depois, partilhar, partilhar. E como escrever é falar, escolho dar corpo a elas, falando em voz alta, apresentando e me apresentando. Então, mais trabalho, ler e ler, memorizar, sentir, deixar orgânico, sentir o ritmo e se apresentar. Ficar tranquila para falar e deixar falar, é todo um exercício. Às vezes não consigo. Mas isso é julgamento meu, pois sempre diz e é importante dizer. O que importa é o alinhamento dentro, um ponto central que garanta a frequência e confiança durante o trabalho artesanal e durante a exposição também. Confia!