Poesia visível
Escrever a invenção da certeza.
sábado, 29 de março de 2025
Jogatina ou Elaboração da experiência
quinta-feira, 12 de setembro de 2024
domingo, 30 de junho de 2024
O que não espera
sábado, 23 de março de 2024
Orvalho da memória
Para L. Fontes
Abro os olhos, lacrimejo, almejo
Recomeço no orvalho da memória..
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
Exercício de magia
Todos os dias
entrego-lhe um presente
singelo tesouro candente
e manter a lucidez...
sem sacrifício.
sábado, 11 de novembro de 2023
Abdico de todos os adjetivos que você me deu. Absolutamente e Absurdamente, obsoleta, vim a óbito. Sou mortal, sou mortífera. Se eu disser que sou o fim, você chegará perto de mim?
"Mequetrefe, Malagueta, Mala sem alça, Alça sem mala, Maçaneta, Perigosa, Perneta, Trêsteta, Caçapava, Querubina, Carabina, Binaural, Inconclusiva, Eterna, bam-bam-bam.
Se eu disser que sou o meio...
Vão dizer que não tenho fim.
segunda-feira, 23 de outubro de 2023
Vísceras
Por aqui apenas vísceras.
Sem política, sem politicagem
apenas vísceras, crueza
tomando lições de crueldade
sem marketing, sem publicidade
beleza ou unanimidade
temperatura quente da presença
boca, narina e uma vagina de profundidade
ou reto acesso e absesso
no olho do pus resseto.
Por aqui apenas vísceras,
parênquimas, fluxo e glândula
em perfeito funcionamento
da clavícula e da veia cava
- não da fábula.
O sim a fístula, do coração,
o grande sim do coração que continua mesmo se for de um grandecíssimo filho da puta ou do ideal moral,
na verdade dá no mesmo.
Por aqui apenas vísceras,
não ser mais simpática, ser parassimpatica.
[Tem dias que é preciso deixar falar a crueldade, ouvir o chamado das vísceras gritando para que algo seja tratado com rigor.]
sábado, 2 de setembro de 2023
Partilha
A coisa acontece assim: alguma coisa move e na busca, um insight vem, uma pequena imagem metafórica que ilumina o caminho do começo ou do fim, e para prosseguir é preciso um decisão: partilhar. Ou, registrar. Porque afinal, aquela imagem traduz algo e já produziu seu efeito em si, por isso é necessário a intenção de partilhar para prosseguir. Partilhar, registrar ou desenvolver. Munido de uma dessas decisões ou de todas elas, vamos à escrita. Quem escreve está falando. E não precisa ser poeta, não. Quem escreve está falando com alguém. Daí a escrita conter a diluição da solidão e o gérmen da generosidade. É uma voz.
Depois do insight, a intenção, o fluxo e o trabalho, de artesão. Deixar fluir, deixar escolher, deixar escorrer ou escrever às pinceladas, deixar ser colhido e colher. Gosto dessa aproximação da escrita com a pintura. É um jeito de fazer pintura. Hahaha. Escrever. Falar e deixar falar. Conduzir e ser conduzido. Essa é a parte mais desafiadora. Ao menos, para mim. É arriscado, sinto. Pois enveredamos pelo inconsciente. Uf. É capaz de fazer jogar todo pro alto. Ressoar.
Depois, partilhar, partilhar. E como escrever é falar, escolho dar corpo a elas, falando em voz alta, apresentando e me apresentando. Então, mais trabalho, ler e ler, memorizar, sentir, deixar orgânico, sentir o ritmo e se apresentar. Ficar tranquila para falar e deixar falar, é todo um exercício. Às vezes não consigo. Mas isso é julgamento meu, pois sempre diz e é importante dizer. O que importa é o alinhamento dentro, um ponto central que garanta a frequência e confiança durante o trabalho artesanal e durante a exposição também. Confia!
sábado, 20 de maio de 2023
Nem tudo são flores
Às vezes é dureza aceitar a variedade.
Tudo são flores.
Faça bom proveito.
sexta-feira, 7 de abril de 2023
quinta-feira, 19 de janeiro de 2023
A serpente
Vês, como rasteja a serpente?
Vês?
Mas não pensa que rasteja como tu pensas,
ela não está no chão, como tu pensas,
Não te esfregues rastejantes, pensando que tu és uma serpente, que ela está no alto!
Ela não está no chão, como tu pensas, quadrúpede, ela está em seu mais alto nível,
domingo, 23 de outubro de 2022
Manifestação política
A respeito das escolhas políticas, irei me manifestar. Via de regra, evito e tenho evitado me partidarizar publicamente pois as relações político-público-partidárias não são passíveis de serem alcançadas integralmente, por estarem em redes discursivas, em cadeias de relações insondáveis. Eles estão presos em teias, difíceis de conceber como verdade.
Na prática, obviamente, tenho que fazer escolhas, mas atualmente são escolhas no nível das apostas sem paixão. No nível das apostas por sua natureza incerta. Faço escolhas observando as relações de sentido que me parecem mais favoráveis, considerando a realidade pública, os valores revelados e que mais se aproximam dos meus, no entanto, gosto de manter a autonomia intelectual para contemplação da realidade, que costuma ser - quase sempre - surpreendente.
Essa polarização impede a observação da realidade e das realidades, pois até o lado do qual me solidarizo pode ser cooptado em seus interiores. E no fim das contas é isso que eles todos querem: que tenhamos medo, que desesperemos, para que eles (Oh!) nos salvem com toda a certeza.
Participo sim do tecido social, e essa realidade me compete, por isso jogo com os dados disponíveis no cenário, voto nas eleições, faço escolhas diárias, me comprometendo com meus atos dispostos no cotidiano, com as pessoas, e também quando não tem ninguém olhando. Mantendo a autonomia intelectual de observadora, refazendo votos diários e não eternos.
Não me abstendo de observar rigorosamente aqueles que discordam de meus valores, com um olho vigilante, bem como de questionar o raciocínio daqueles que tem valores aparentemente afins, se assim for necessário. Assim tem sido feito, assim tenho conseguido dialogar e manter a concentração, autonomia interior e evitar o desperdício de energia. Que não estou esperando salvador nenhum.
Aqui ninguém é bonzinho, não. Nem eu.
terça-feira, 23 de agosto de 2022
O que não tem solução
O insolúvel está resolvido:
deve ser diluído
em grandes porções de água,
até ficar pequeno, pequeníssimo, sereníssimo
e retomar a naturalidade, a sábia proporção
na dança das paisagens, e seu aroma ser de passagem,
e seu amor ser desapercebido,
até ser insondável grão construtor de realidade
e plenamente aceito.
Divertido ou inadvertido.
Integrado, ser desapercebido.
sexta-feira, 22 de julho de 2022
A arte, nas Artes
Para Gracy Morais
A arte, nas Artes, é a arte de continuar fazendo, aperfeiçoando, elaborando, continuar fazendo. É relacionar-se com o fazer material da linguagem, mas é também se relacionar com o contexto cultural (ou recorte) em que se está inserido, suas circunstâncias e em quais circunstâncias trabalha e faz a arte. Trabalhar com a arte envolve buscar possibilidades de prosseguir e mais do que buscar, é prosseguir fazendo, como pode e quanto pode. É isso a que referem-se os artistas quando falam de vocação ou necessidade: é que continuar fazendo faz sentido e é o próprio sentido em si. É como um fiozinho que você puxa uma vez e de onde veio aquele fio tem muito mais, fios infinitos que você quer puxar, desatar os nós, costurar, bordar e descobrir os mecanismos de continuar. Assim como a arte de viver, prosseguir. A própria vida e a vida própria.
São muitas as circunstâncias, infinitos caminhos e possibilidades, várias necessidades clamam, diversas coisas nos acontecem, somos surpreendidos para além dos desejos e dos planos, necessidades materiais, diálogos e conflitos com a cultura local, nosso mundo interior e tantas forças não nomeadas... mas por fim, cá estamos e fios que puxamos nos puxam à continuação dos trabalhos... simples. Tem sempre um sentido de detalhe... mesmo se for uma força vigorosa que nos move, sempre um sentido amoroso de detalhe.. uma peça, um recorte, um quadro, um verso, uma estrofe, uma história, uma foto, uma canção, uma melodia, uma parte, um movimento, um boneco, uma solução plástica, uma pincelada, um detalhe. Chamar algo de arte é dar-lhe uma sentido de detalhe, de cuidado, de aperfeiçoamento e continuação cuidadosa, se fidelizando como aprendiz e relembrando o sentido íntimo da palavra artesão.
E isso pode se estender à outras práticas, que envolvem a continuação, o detalhamento e o aprendizado, como a jardinagem, por exemplo, e tantas outras artes em que seus praticantes o sabem: práticas que envolvam esse tipo de afeto, relacionamento e considerações técnicas a cerca de um fazer e continuar fazendo e manuseando matérias e linguagens, que nos revelam seus saberes enquanto manuseamos, e a eles nos entregamos com amor.
segunda-feira, 27 de junho de 2022
Presentinho ou caravela
Para Juliano Caravela
face a face:
um afago no instante,
sutil aceno nu barquinho
delicadeza de amar além mar
a figa, afogo, afago
nosso disfarce -
lavo e passo
estendo no varal nossas bandeiras,
hasteio-me
e sempre te amo pelas vistas.
quarta-feira, 27 de abril de 2022
As guerras
E não é possível me colocar à parte da guerra, simplesmente. Não é tão simples, pois estou inexoravelmente inserida dentro de uma cultura global, de desenvolvimento material e tecnológico firmado em processos históricos violentos, dentro de uma cultura colonialista, que usufrui dos recursos naturais com bastante apetite e: eu usufruo dos bens desse contexto. Somos um, não é mesmo?
Além disso, é mister reconhecer as guerras que travamos dentro de nós, em nossos desafios emocionais, embates com dores que não sabemos o que fazer, outras vezes nem sabemos que são dores. E guerreamos sobrevivência, força, medo, reconhecimento e razão - forças descontroladas manifestam-se e disputas ocorrem no cotidiano, e as experimentamos dramática ou tragicamente, dentro e fora de nós. Então, assim, os esforços de paz precisam começar em nós, no reconhecimento do que guerreia em nós, para quem sabe auxiliar e fomentar instantes de paz, com sorte. Pra começar...
quarta-feira, 30 de março de 2022
O princípio da liberdade e o pressuposto da pequenez
Nesses anos todos de trabalho artístico, de trato com a poesia e com as representações, com o teatro, a dança, a música, a palavra, todo tipo de beleza narrativa, simbólica, rítmica, percebo que evito ao máximo servir à ideologias, filosofias sociais, políticas ou religiosas (dogmáticas). E quando eu digo servir, quero dizer servir prioritariamente, porque, é claro, que sirvo a determinadas ideias, mesmo que não as nomeie. O que eu quero dizer é que não farei da arte uma bandeira, dessas que se conhecem, ou de outra coisa que não seja a própria arte de estar vivo. Prefiro deixar o campo aberto.
Obviamente me afeiçoo a determinadas ideias, éticas e simbologias (escolhas!), e que elas aparecem de modos indiretos, sutis no trabalho todo como parte da vida, e até de maneira direta, se for o caso, mas não gosto de ter o trabalho confundido com ideologias, pois afinal gosto de servir à variedade da existência, e posso mudar de ideia sempre e posso também estar brincando (principalmente!). A coisa é ser livre. Ao menos mais uma vez.
Mas... ao mesmo tempo, e por isso mesmo, não posso deixar de criar parcerias por receios excessivos de controle, que tudo existe! Deixar vir à mim o que é para mim e no caminho eu explico. Vamos fluir um pouco, sem ser porta-bandeira, ok?
Tranquilidade.
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Eu não sou obrigada a explicar os motivos da poesia, não escrevo para mudar o mundo, que sempre irá existir um pouco de tudo. O poema é um lugar. Dentre todas as possibilidades que existem. Tudo é possível, e sempre existirá um pouco de tudo. O que fazemos é servir mais a uma realidade do que a outra, sustentando o que acredita-se. Sempre existirá um pouco de tudo. Eu sou babona de deus, vocês sabem, e por isso subsiste em mim momentos de amoralidade e afeição pelo não-julgamento e suspensão da dualidade bem e mal - não é seguro, claro, mas deus me conhece e sabe que eu acho tudo lindo, vai me ajudando. Momentos contemplativos que fazem emergir a intuição e o princípio da não-interferência. É O MOMENTO DA CRIATIVIDADE.
Eu falo isso tentando ser o mais realista possível, de modo literal, a modo que todos gostam, mais literal e realista. Pois de maneira realista compreendo que as minhas ações são parte infinitesimais da contribuição geral para possíveis realizações, e essa consideração e consciência de ser infinitesimal na contribuição é justamente o que motiva a continuar a contribuir. E, ao contrário do que possa parecer, é um realismo positivo, que faz com que eu atue sem a necessidade de necessariamente colher qualquer fruto específico de mudança, pois quando atuo na intenção de mudar o mundo, desacredito, e caio inapta, arrogante e imóvel no chão. O acolhimento da pequenez torna a ação possível, em si!
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022
sábado, 29 de janeiro de 2022
É como uma filosofia.
De não querer destruir nada desse mundo. Absolutamente tudo existe!
Com isso quero dizer que não se realiza mudanças com o desejo de destruir algo em absoluto, e que aquilo não aconteça nunca mais, ou não exista mais. As coisas mudam de lugar, apenas. Tudo existe! É preciso mais energia em promover e colaborar com as situações que acreditamos ser as melhores, do que energia em destruir ou silenciar pessoas ou ideias (em absoluto) que têm em si (em absoluto) o direito de existir, imperfeito ou em confusão ou engano (e afinal, quem vai saber?). Quem sabe fazer não caber.
É preciso firmeza para se manter na sutileza. Firmeza para ações cirúrgicas e não batalhas inglórias.
É como uma filosofia... uma sabedoria. Ou um jogo.
terça-feira, 18 de janeiro de 2022
Antes mesmo de vir a ser
Iniciais e terminações.
Noticiário.
Ideias. Ideais. Cânticos.
Sonhos. Alguns pesadelos,
outros pisadelas.
Flor de terra!
(Pele solta de cobra...
Pé de cabra! Joaninha.)
No máximo, eu reino
e pra dizer o mínimo,