quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Só temos mais uma chance. A última chance de ser 2008!!
Aproveite!!!!!

domingo, 28 de dezembro de 2008

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drumond de Andrade


Muito prazer, pode me chamar de José.

sábado, 27 de dezembro de 2008

meia-noite-inteira

PSó esta noite
As luzes piscam no breu
Os ateus dizem amém
E um tio renasce das cinzas.

Só esta noite
Alguns tem banho de sol estendido
Portas e janelas abertas.

E shoppings também.

Só esta noite
e apenas nela
os perus voam para o céu.

Meia-noite-inteira

Só esta noite
Anjos terrestres...
Demonios celestiais...
...Se amam.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Sombras



Fantasmas espreitam-me.
E não são os meus.
Assustam-me,
Vê-los não posso.

Dedos cruzados
à espera de lençóis.
A impotência de estar em outro plano
Panos e panos,

Livros, cartas e fotos
Tão insignificantes diante das reticências da memória
Diante da segurança do conhecido
desconhecido pelo tempo.

Fantasmas espreitam-me em silencio
E de nada me serve a matéria.

Viva.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)


terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Integração

O passageiro pede passagem.
Paga passagem
Burla a passagem
Corta caminho
Corta a despesa
e chega sozinho.

O passageiro pede passagem.
Pela vida.
Pelo onibus.
Pelo sonho.
Pede passagem
e que não seja em branco.

Que seja pulando a catraca.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Perseguição

Às vezes me parece esta vida ser apenas imaginação... não se tem certeza de nada, tudo fruto de nosso cérebro, se é que ele existe! Eu nunca vi. Quem vai saber se ele se apenas se materializa em contato com o a poluição da vida aqui de fora. Não pensem que eu só acredito no que vejo, eu sinto também, ou pelo menos sinto que sinto.
Faço essas observações ( que parecem sem sentido) pois Eles me perseguem. Estão por toda parte: de manhã no meio da manteiga do pão; no trinco da porta; dentro de apostilas; no céu azul; nos beijos azuis; nos espelhos; nos meus cabelos.... Eles.... os Pensamentos.... e NÃO ADIANTA CORRER, FUGIR... Eles me excitam o dia inteiro, tentando criar realidades paralelas ou intercruzantes. Estão dentro de mim.
Tem dia que apenas um ou dois, que fica sob meu controle... já em outros Eles vem em bandos e me confundem, me embaraçam. E não sei mais o q é de verdade. A imaginação me conquista. E beija. E me prende.
Isso às vezes é dor. Fina barreira entre choro e riso.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Ainda hoje

Dignidade. Ainda hoje procurarei no dicionário.
Ainda hoje.
Ainda hoje procurarei um emprego talvez, ou me tornarei virgem sem causa. Ou ainda irei me ajoelhar no milho. Quem é digno sofre. Dizem. O Aurélio não me diz nada...
Ninguém me diz nada. Talvez isso seja apenas para os dignos ouvirem.
Ainda hoje procurarei no dicionário. Respeito.
Ainda hoje.
Dormirei cedo, talvez mande queimar os bandidos... limpeza. Ainda hoje farei um curso de administração e informática. Ainda hoje serei fiel. Ao respeito, esse tal de digno.
E o Aurélio não me diz nada.. livro ingrato.


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Desligamento

Enquanto escrevo
Alguém morre de frio.
Escrevo e alguém ri


de mim?

Me devaneio em pensamentos
e continua o dia
a vir depois da noite.
Minhas orelhas em fogo

Felicidade subjetiva
Buscada em pedaços tão concretos
Como massa de modelar
em maõs de crianças.

Alguém se lembra???

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

As putas também amam. Amém.

Ilusão vital

Tudo calmo e sereno
Como um sonho infantil.
Um mundo de letras e doces
No quintal de giz .

Coquinhos na areia
mastigados com prazer
Granizos derretidos
antes de chegar ao chão

Sonhos e fantasias singelas
buscadas todas as manhãs
E enquanto perdidos estão
Eis que continuo acordado

escrito em 18/04/2008





quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Gratuidade. Não ao capitalismo emocional.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Chiclete azul

ENFRENTE AGORAO REENCONTRO COM SUA PRÓPRIA FACE.VIU COMO MUITAS VEZES ÉS INSUPORTÁVEL?

E agora? Você mesma não era tudo que vc queria?E aí.... que hipocrisia toda é essa?
Vamos!Por onde anda toda a sua compreensão e amor, toda a sua gratuidade!?? Vamos, onde está?!! Um beijo só dura enquanto esquenta a sua boca? Mas que merda de amor é esse?
O ser humano é naturalmente comercial, onde não existe dinheiro existe a troca.. os sentimentos são trocados por bem-estar... é essa a real serventia para todo romantismo existente?Para toda bodade existente? Para todo esse calor existente?
Você é mesmo o melhor de vc?
Ou então tudo não passa de uma ideologia barata, uma alternativa?
Sou igual a todo mundo. Dependente. Possessiva. Opaca. Pelo menos eu tento.Tento desembaçar esses vidros que me distorcem a visão.NÃO ADIANTA. O próprio vapor de minha respiração o embaça novamente... tampar o nariz talvez? E a boca?
Inerente. Natural. Será que estou ficando cética? será que não sei o que sei? Será que a única coisa que faço ´é perguntar?

É a covardia que não deixa escancarar-me diante dessas palavras tão mais fortes que eu.
Acho que vou mascar um chichete. Azul.




segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Segredo 2

Olhos:
Doces e caramelizados
Me levam da infância
até o mais ardente prazer
A cada cerrar, um segredo.
Labirintos que insisto em desvendar
Alice. No país das maravilhas

Boca:
Desenhada como um sorriso
Capaz de se refletir em mim
De sugar minhas forças
e renová-las
Como um coringa - ele sorri.

Mãos:
Duas?
Tão ágeis que nem sei!
A um simples toque - gravidade zero
A leveza da força capaz de me tocar a carne
de me tocar a alma.

Cabelos:
Enrolados.
Como os meus.
Nos meus.
Pelos meus.
Dançando...
num ritmo flamejante
Como uma labareda

dentro de mim.


domingo, 3 de agosto de 2008

Aniversário

Um despertar com um beijo, um nascer do sol, um sorriso sincero, uma lembrança.
Já sei o que irá pensar: que essas coisas não devem ser só lembradas uma única vez no ano. Sinto muito, eu que não vou abrir mão de um pretexto para a felicidade.


Parte 1

Uma mesa de bar quadrada, que na nossa união arredondou-se. Drogas lícitas que em nossa união purificaram-se. Como um ritual a gente ri.
Não há velas a serem apagadas. Acendo-as e deixo que o fogo as consuma, que queimem e brilhem até o último instante - enquanto oxigênio for suficiente (nunca é). Como um ritual a gente chora - chuva - numa cidade nos últimos tempos tão seca.
Lágrimas, sáliva e cerveja numa mesa amarela.
Olhares, vozes e calores numa mesa redonda.



Parte 2

Bolo feito com carinho tomando sereno na janela. Será que posso dizer que o sereno é natural? Ou não mereço perdão?
01/08





quinta-feira, 31 de julho de 2008

"A verdade não rima"

domingo, 27 de julho de 2008

Silêncio

.Lá está
Em cada canto que você não consegue ver
A fina divisão entre uma palavra e outra
O seu segredo
A sua vergonha
A sua face.

O piscar sonoro. A pausa

Entrega tudo sem o subterfúgio
das palavras.

Ambígua é
A morfologia dos gritos:
Palavras estancadas,
silêncio escancarado.
Silêncio contido
palavras escandalizadas.


Palavras.... tão ricas e tão insuficientes. Talvez esteja aí justamente sua magia, a magia de ser tão essencial e tão incompleta, que leva pessoas - como eu- a buscá-las, a sondá-las, cheirá-las, eu diria até comê-las...
O silêncio assusta. Mal sabem que é as palavras que deveriam temer...