segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A aula-teste

A aula-teste. Pois é, lá estava eu indo para uma avenida de uns três mil números! Mas para quê?! Bom, para participar da oficina teatral que tanto queria, precisava passar pela aula-teste, é, uma espécie de seleção. Se bem que... se bem que a oficina se dizia para pessoas de conhecimentos teatrais avançados... mas como isso é relativo, resolvi participar. Afinal, sou uma pessoa avançada, ou pelo menos,penso que sou.

A dita cuja aula começava às 18h30, e eu saio às 17h50... o problema se iniciou psicologicamente, pois eu havia feito a inscrição pela internet, no último dia, em cima da hora e não havia recebido nenhuma confirmação do Centro Cultural, portanto, eu não tinha certeza nem da minha inscrição. Liguei para o local, durante o dia todo, e ninguém me atendia... resolvi então, dar a cara a tapa, pagar pra ver.

Saí do curso no horário previsto e... surpresa: o céu estava caindo sob a forma de água! O maior chuvão, com direito a trânsito e metrô asfixiantes de tão lotados. Eu tinha apenas 45 minutos para chegar ao destino, se fosse num dia normal, até que conseguiria, mas...

Fui para a estação, pegar um dos três metrôs que tinha que pegar, e estava aquela muvuca esperando para entrar no vagão, que sempre estava cheio e cada metrô que chegava era aquela encoxação, foram 15 min. para conseguir entrar; na segunda estação a mesma ladainha e empurra-empurra, cada um querendo mesmo é garantir o seu lugar; já na terceira, que foi a pior, mais cheia, mais suada e decotada de todas, deveria ser a mais sofrida, mas já estava calejada por conta das anteriores. No último metrô, chegando na estação Brás, fui expelida para fora num engarrafamento humano, sem direito a defesa ou discordância : saí do metrô.

O certo mesmo era ter descido na estação seguinte, mas como meu corpo não teve escolha própria e eu percebi que já estava na tal avenida, resolvi ficar por lá mesmo, afinal a chuva já tinha parado. Quando passei a catraca, eis que começa a chover violentamente.

E lá fui eu enfrentando o aguaceiro, de guarda chuva aberto, e descobrindo o quanto era eficiente o meu tênis, que mesmo encharcado manteve firme e forte a minha meia seca! O endereço já estva na memória, e o número de destino era 1401; passei por debaixo do viaduto escuro para chegar à tal avenida e descobrir que estava por volta dos 1900's e também que teria que atravessar o extenso viaduto claro, passando por um espaço muito estreito - talvez não para um ser humano, mas sim para um ser humano com guarda-chuva, mochila, caderno e pressa. Já passva das 19h30.

Porém, me reanimei: opa! Já estva no nº 1500 e pouco, e resolvi, não sei porquê, dar uma olhadinha de leve no endereço - agora parando para pensar, nem sei porquê fui conferir, mas deve ter sido, simplesmente, uma maneira de comemorar comigo mesma a vitória de ter chegado ao destino. Abri o caderno (que estava levemente dissolvido em água) e percebi o erro cometido: o número não era 1401, e sim 2401.

E o caderno acabou se dissolvendo por inteiro.


sábado, 12 de setembro de 2009

Fada

Esvoaçantes véus...
os tomam por completo
desfazendo músculos rígidos
em caramelos macios,
e doces túrgidos.

- Ou seriam cabelos?...

Ondas em perfume...
destacam-se de obstáculos...
em vapores cor de violeta circulam,
Se reúnem em espirais azuis e mel
numa festa sinestésica:

- Por um instante, o céu?

Ilusionistas que são...
Flutuam sobre varinhas de condão,
Em suas gigantescas pupilas.
Inocentemente te segredam:

- Sim ou não?

Asas de libélula...
que alcançam o céu da boca
e num mar de sal procuram cócegas.
Aceitam tua mastigação,
com a honra e orgulho
de parecer mera imaginação...

- Pesadelos juvenis?

Uma baba doce...
Corrosiva ao extremo
se não consumida pelo a pelo,
Se não aceita como um apelo.

- Será por isso que está molhado o travesseiro?

Delicadas garras...
te arranham com suavidade...
arrancam-lhe a pele...
em meio a carinhos anestésicos
e sombras brilhantes.

- Quantas noites desejadas num só dia?

Hipnotizados pela melodia
esta que até curupira se admira,
e a qualquer um que entre folhagens a mira
em canções milagrosas...

-Sucumbira!...

Úmido e doloso:
Chorando lágrimas
de leite
e num deleite,
sussurra:
Fada...

- Bruxa?