segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Doce caído



Não devia escrever sobre o amor. Eu não sei falar de amor, na verdade, odeio palavras de amor, todas com o ar de impossível, inalcançável, lembrança! Expressões envoltas num clima etéreo, não-cotidiano, celestial e sem pecado! Novelístico! Odeio palavras de amor, são pequenas, ínfimas dentro de todo sentimento realizado, sentido, lascado, compartilhado, respirado, o amor não merece síntese, não merece sentença, verbo, é inenarrável. Quando escrevo sobre amor, falo sobre ele, sou traíra, homicida. Perdão. Não deveria escrever sobre o amor. Quando calar, escute-o.


            


Que gosto tem o sabor da sua noite? Dá gosto comer, não como. Imagino, impossível satisfação, sem frustração, meu amor, não vou comer-te. Aperte-me quando chegar.

Ao olhar, aquele contraste de sua pele com seus pelos, ser de contraste, um desenho, quase uma gravura, assim, de longe, mas tão impactante como uma obra de arte, luz e sombra pela moldura da porta. Há quanto tempo não achava um homem tão bonito, mesmo nu, corajoso nu, com e sem pecado. Seus pedaços sem pelos: apelos catalisadores de toda atenção, como uma distração, uma abertura para que possa passar a luz dos olhos, um deixar tocar, de uma força e fragilidade conjunta, inseparável, que seguram-se uma a outra. Surpresa suas proporções, de uma delícia dentro do conjunto inesperado.  Poderia olhar por horas bem de perto - olhar alguém é contemplar sua existência - contemplaria sua existência sem tocá-lo, por horas, como uma mulher paciente. Viveria pelos olhos, que explodiriam verdes – e nunca maduros.
                Seu cheiro, a quanto tempo alguém não permitia-se exalar para mim um cheiro tão natural? Cheiro advindo de seus hormônios frescos, afrescos, tão novos que quase doces, mas ácidos como a sede,  nuvem invadindo minhas narinas, meu corpo, profundamente que poderia flutuar através da – inevitável – diminuição da força de gravidade. O ar quente sobe, sabia? Respira fundo. Cheiro que me invade, e tem a concessão, molha-me, derretida por seus vapores interiores, que chamam para juntar, masculino –   como se pudesse tocar seu cheiro branco. Hálito, ar, vapor, transpiração, lembram-nos que temos espaços vazios, orifícios em memória de um corpo remoto e que tem fundo.          

                Que gosto tem o sabor de sua manhã? Leite esparramado, esparrama-se por entre as frestas, escorrega e volta a dormir.

Ao tocar, as cócegas. Primeiro as cócegas. (Obrigado meu Deus por nos dar a pele, cobertura porosa, salvando-nos das palavras, posto que são incompletudes). Primeiro as cócegas. A aura se treme toda, ri, entende e deixa ficar, mistura das cores de luz. As palmas das mãos procuram-se fazendo o caminho tátil mais longo, um amassar do outro, e se amassem, algodão, pelos, derme, epiderme, rins, estômago, coração, o corpo encontra-se em extensão, o abraço. Que para durar é preciso respirar em quebra-cabeça, um inspira enquanto o outro expira, e vice e versa, quem começa? Tatear na claridade, dançar o outro, que carne é essa que te escondes, e se comesse e se amasse? Beijo seus lábios brasileiros, almofadas para os meus - nos lábios é que descansamos da ansiedade da língua, que procura, procura, cobra do sabor, sem dieta, serpenteia em/onde não é chamada, refresco e sal, alternada. Aperta-me com força, masculino, direciona-me, conduz, como bom dançarino, sem brutalidade adquire concessões.    Encontram-se, enfim, os umbigos, aspirantes de um susto.
Sua voz, doçura, doçura – ah, isso ainda existe, lembra-me dentro do engano – doçura, doçura, açucarado som macio entre masculino e feminino, de agudos a graves, entre feminino e masculino estamos nós, meu amor, seres de amplitude. Doçura, doçura maciça, som que no instante era apenas um eco, lembrança, expectativa, o pacto de silêncio nos guardava de enganos semânticos, de impropriedades, de pedidos vãos, da linguagem vã. O silêncio dos que não carecem de sentido, experimentando o nascimento de um sentido. No silêncio o vento, o trovão, a nuvem escura e sol que persiste; no silêncio o roçar do olhar, o dançar dos cachos, o convite às uvas, o abrir das chaves e o fechar da chuva. Sem verbo, um ronronar escapa, um suspiro, um medo, uma coragem, sem verbo, sem adjetivo – subjetiva nata de palavras soltas (as rebeldes) que jamais chegaram a fazer sentido, pura sonoridade, a audição negou-se a dar significado à canção – um assobio de brisa sacudiu meu coração.

Que gosto tem o sabor da sua tarde? Flutua nas ondas de minha língua de um sabor simples, não retoque, por favor, fique assim, de sabor brando e silencioso, saliva que seca ao vento, sol caído em mim.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Literatura entrecortada por um título que quer amor


Mistérios do corpo e de sua natureza ora dura, ora vaporosa. Você faz perguntas demais para uma cabeça oca, e tem rigidez excessiva para quem tem sangue líquido, senhorita dos lábios de ferro. Pequeno pêssego, de enfeite... Fruta madura, de fina e rósea penugem cai ao chão, lembre-se, por favor, ajude-me senhor das maçãs, coloque-me em sua cesta improvisada para pães, serei maçã, serei maçã, serei seu pecado tímido, por favor ajude-me, senhor das maçãs. Envolva-me de opaco papel roxo, causa-me impacto, serei maçã, serei maçã, serei doce e dura, serei maçante, tão maçã que só caberei em tua cesta, improvisada, como eu, serei maçã. 
Lembre-se, não espere veludos, sua jaca.