Dedicado aos companheiros de humor.
Gargalha para não cair na melancolia,
Ri antes dela, inibindo-a à
revelia.
Assusta com ruídos! Lúcido desvio
É a surdez num desvario.
Gargalha para não cair no ridículo,
Ri antes dele a risada tua e ridícula,
Do julgamento e estigma livra-te, chulo:
Do rir por último livra-te, divertido
- e inevitável - jogo de espelhos invertido.
Gargalha tua timidez, que é da moral a flacidez,
Ri, sonoro, antes dela, avermelhai em socorro
Pele, dentes, olhos e os fundos de sua confiança
Numa explosão anterior e superior à tua confusão
- vai, paga tua fiança.
Gargalha, mergulhai no desespero, ri dentro dele!
Bebida sem gargalo, sem solução, ruidosa,
Um escândalo de vida sem licença
- ecos num poço com fundo.
Gargalha no silêncio, e sê superior às leis, à atenção, ao pacto,
à aliança
- à palavra.
Ao cessar o riso, inevitável: poetizo.
(Publicado no livro "Coletânea de poemas", III Prêmio de Literatura, Editora Edufes, Espírito Santo, 2016)