terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Juventude



Há vida: 
Ávida
Dúvida
E o barulho é tanto, tamanho é o ruído que termino quase a me ruir de excesso,
Marítimo o meu desejo de vida estende-se e chego a pensar que não há praia, que ainda estou nos tempos primórdios onde a vida é apenas uma espera elétrica.

Impávida,
A vida no silêncio.










quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sinfonia de uma queda

Para Eddy Andrade



A chuva caía leve - por fim compreenderá.










Caíram-lhe das mãos escorregadias os utensílios pequenos, simplórios:
As moedas, os talheres, os copos, as canetas, os chaveiros, os livretos,
Os brincos, as navalhas, os abridores de garrafas, os supositórios,    
Os anéis. As alianças não eram suportadas, nem mesmo pelos magnetos
Asseguradas. Desassossegadas  
As aranhas tímidas do canto da parede pesavam como se a gravidade fosse Deus.

Pesavam-lhe as coisas que em sua natureza leve antes estavam, e aéreas:                         
As aves e os insetos, alados, não suportavam mais alta atmosfera -
Caíam, espatifados. Não mais etéreas, quase sérias, as flores,
E as folhas todas caídas por terra, verdes e de uma só vez -
Faziam as árvores reinarem sem sombra de dúvida e incrédulas
Por haver tanta luz em outra estação.

 E des-pen-cavam à sua presença o que era óbvio e próprio da existência cair:
As chuvas e as maçãs maduras, as crianças imaturas,
Os seios e os insistentes anseios seus - impróprios e de nascença.
E quebravam-lhe, corajosos, o medo da quebra e da mágoa -
Sob seu olhar pesadíssimo, as verdades caíam em mesuras
De um prazer de doer a mentira no chão.

Por fim e  consequência pura da lógica (de)crescente
Vieram os ruídos pesados, vidros espalhafatosos, louças indiscretas,
A cair.
O caos dos móveis e dos telhados despencando em toneladas,
A cair.
As pessoas que tropeçavam no pó dos objetos moídos e a incredulidade de tudo,
A cair.
Os carros sentados sob os pneus murchos, imóveis sob o chão,
Cortinas despencam, tudo é conhecimento e não há mistérios
Após ter sido dado poder à gravidade.

As águas esmagam os peixes.
E a respiração é de uma vez e engolida no silêncio.

Toda a lava voltou para dentro da Terra. 


Enfim, e só então, espatifaram-se no piso as suas dores e penas:

Seu único desejo era não mais desejar cair em si,
E no silêncio de um mundo todo caído, onde só há a sua alma sem peso,
Dos entulhos sair ileso.                                   










(Publicado no livro "Coletânea de poemas",  III Prêmio de Literatura,  Editora Edufes, Espírito Santo, 2016)                   





                                                               

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013





A poesia está escassa -
Artigo de coragem implícita em tentativas de amor?
Ou
A poesia tornou-se devassa -
De existência explícita em tentativas sem ardor?

Melhor seria uma rima pobre
- Mas brilho de uma retina -
Do que estas pobres rimas, franzinas.

Há escassez de poesia, alimento -
As que resistem são tímidas canções ensopadas de um rala-dor sem alento.