domingo, 25 de maio de 2014
Intuição
Há de haver um segredo, um mistério dentro das ações, que as abre, que as conquista. Uma porta por onde passe e se realize as potências, grandes, de arranhar o céu que há por aqui. Talvez tenha alguma regrinha da vida que esteja trancada e eu ainda não saiba abrir, um algorítmo, um código, uma senha, uma palavra-chave, um segredo, um pequeno nó que desatado transcorrerá em fluxo, em luz, em vistas assim para o mar e serei ave - de arranhar os ares, na expansão da visão ampliada, e de ação presentificada, um ir além das ideias. Talvez o meu corpo não esteja suficientemente forte ou esteja excessivamente forte, talvez haja medo, talvez eu esteja ligada demais à terra ou pelo contrário, dissolvida, expandida no ar - aquele que ocupa, mas não é visto, é transparente, e exige do outro que seja sensível e só assim será grato. Como o ar, que existe e está em todo lugar, sutil para os atentos, mas que tem necessidade de uivos, exageros e certa dose de destruição para os desatentos, o ar, quem o tem não sabe que o tem, o ar, a aceitação da sutileza: a primeira dose do alcançar o vôo, os mil andares, o ecoar chegando aos ouvidos, os cantares anteriores à ação. As penas, o abrir das asas, o peito aberto, um saber sair e voltar para a própria casa, sempre desperta.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Ao amigo, uma história.
Ao amigo, a possibilidade de trocar de umbigo
e tornar único o que aos os outros é ambíguo.
Para Carlos Paulo .
I.
O verso e o reverso do poema
Traz para perto o que já foi,
o que é, e o segredo: em dupla é menor o medo.
E naquela visão do mar sob a ponte
Chuva de oceano a umedecer nosso ano
Descobrindo juntos que o horizonte não é plano
e que ser (seu) amigo é ser humano.
E para quando a saudade for tua
Lembrar que no céu de cá e daí brilha a mesma lua.
II.
Empurra o balanço da minha infância...
Você é sempre o descanso de toda ânsia.
De pulos e soluços entre os bancos
Amarelos, verdes, azul-criança,
Adocicados aos solavancos de energia branca.
O menor pedaço do biscoito ao meio eu lhe dava.
Mas o que mesmo importava
É que em seu pedaço o recheio estava.
Numa pausa dramática, com as carteiras me deixou,
Mas ser dupla não era mera questão matemática:
voltou.
Pelos fios telefônicos costurávamos nossas tardes
Em divertidos tons irônicos de pequenos alardes.
E os cabelos da professora aos poucos caíam em fio.
Acompanhante na rebeldia pelos corredores circulares
A correr-ria, espalhando alegria pelos ares.
E o meu mundo rodaria pelos bares, pelos lares
Explodindo canetas, incertas, afinal
Nossos sonhos grandes cometas -
O Big-Bang sideral fermentava em nossas gavetas.
Os cigarros eram dele
Os tédios meus.
Acende pra mim?
Não estou enxergando nada.
Terna lanterna a me acordar
De devaneios vis que ameaçavam me levar
A perder, a rodar.
Ganhei. E um companheiro de estrada.
Avante! Façamos a manutenção da gargalhada.
-Empurra o balanço da minha infância?
- Os pés agora esbarram no chão, que ânsia!
- Trocamos a brincadeira, não tem importância.
III.
Do pré à velhice
O poema parece dar um salto -
Ainda não a velhice dos cabelos brancos e das grandes orelhas
Ainda não a velhice das rugas, ainda não, mas
Há algo irredutível na velhice
E se há algo irredutível na velhice, que seja a nossa amizade
Do pré à velhice.
E a cada aniversário seu é meu aniversário também
Pois a sua presença faz parte da contagem do meu tempo:
A vida estende-se entre os nossos encontros,
Distribui-se sem preço e nos encantos com a grandeza do que é simples a vida transborda,
E a maioria das vezes a gente disfarça, por um segundo tranquilos a ver que a vida passa e nos balança -
Curando toda ânsia.
Do pré à velhice.
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