I.
A cidade de onde eu vim já não tem nomes comuns, nem significados triviais, meramente informativos,
Quiçá são poéticas ou metafóricas as suas partes, seus embates, seus excessos não mais excelsos.
A cidade de onde eu vim e suas partes já não me ocorrem como substantivos , como reconhecimento trivial e utilitário de quem é integrante.
Não habita mais a ordem de significação simples, nem a simbólica da invenção. Não a reconheço, nela re-conheço-me instante, passante.
Suas ruas são memórias, filmes biográficos onde encontro o que sou e o que não sou mais.
E não me soa bem dar nomes conhecidos às coisas que vejo, porque são elas que me nomeiam agora.
As ruas, avenidas, árvores, a sujeira no centro da cidade, o som cortante do metrô, as luzes artificiais, meramente existências comunicacionais neste texto
Não significam nada em geral, nem em universal,
Apenas me revelam meu próprio subtexto, contextos de esquina, bibliotecas de pequena vida e bares de tudo o que já passei, ser consumível de óculos escuros.
Sem construção eu passo diante das construções que me construíram:
Nos ruídos, sem retórica,
Nos faróis amarelos da memória
Eu passo.
II.
Eu passo, e o passado é um tanto.
Passo, à noite me entrego aos passos e desconheço
(À noite o que existe é sempre outro lugar, vertiginoso e espesso).
A passos pardos caminho e desapareço, aliviada, sem ninho
E, é nesse lugar, preciso, que a cidade de onde eu vim vem mostrar-me de onde eu vim:
No encontro com os moradores da cidade escura,
Na sombra da luz,
Na escuridão condutora da noite descoberta,
Nos verdadeiros faróis que não dormem, estou surpresa:
Tudo voltará ao seu lugar quando você perceber que já está em seu lugar
II.
Eu passo, e o passado é um tanto.
Passo, à noite me entrego aos passos e desconheço
(À noite o que existe é sempre outro lugar, vertiginoso e espesso).
A passos pardos caminho e desapareço, aliviada, sem ninho
E, é nesse lugar, preciso, que a cidade de onde eu vim vem mostrar-me de onde eu vim:
No encontro com os moradores da cidade escura,
Na sombra da luz,
Na escuridão condutora da noite descoberta,
Nos verdadeiros faróis que não dormem, estou surpresa:
Tudo voltará ao seu lugar quando você perceber que já está em seu lugar
- dizem os corifeus da Lua -
A noite a caminho do dia na noite caminha,
O dia a caminho da noite no dia caminha,
Num retorno à lei do eterno retorno
Retornar a casa é para despertar - não para adormecer.
O dia a caminho da noite no dia caminha,
Num retorno à lei do eterno retorno
Retornar a casa é para despertar - não para adormecer.
Então a essa hora, e a hora é pouca,
Na cidade de onde eu vim já não há mais símbolos,
Há existência, uma incontinência de concreto
Onde os espíritos são duros e furam tal qual as balas do revólver, e são capazes de levar a tempos antigos, imemoriáveis, históricos, tubérculos, de sangue, pesado e carmim -
E nessa cidade velha eu paro, atenta, pedestre, na faixa branca da memória do que veio antes de mim.
Na cidade de onde eu vim já não há mais símbolos,
Há existência, uma incontinência de concreto
Onde os espíritos são duros e furam tal qual as balas do revólver, e são capazes de levar a tempos antigos, imemoriáveis, históricos, tubérculos, de sangue, pesado e carmim -
E nessa cidade velha eu paro, atenta, pedestre, na faixa branca da memória do que veio antes de mim.
(Publicado no livro "Coletânea de poemas", III Prêmio de Literatura, Editora Edufes, Espírito Santo, 2016)
2 comentários:
Uau
Uau
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