segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O salto e a Fé



(Carta escrita a Daiane Correia, 06 de Abril de 2019)




Durante muitos meses busquei respostas, respostas certas de como, quando e por quê. E quase não as tive. Porque essas coisas são raras, e não são coisas que se possam TER mesmo, assim pra sempre. Deve-se buscar um estado. Um estado de ser. A certeza só pode ser interior.

Você tem sido, para mim, a pessoa mais conhecedora da fé e da confiança no direito de existir (à sua maneira); da preparação necessária do material interior para o salto. A fé, em sua essência, acredito ser a simplicidade, mas eu a tenho experimentado como um salto, essa sensação de não ter onde segurar, e mais: não buscar segurar. O salto. Sem segurar no pé da mesa ou na saia da mãe, dizendo *não quero ir! coitado de mim*, *sou pequenino, não quero ser destruído!*. E por fim, o medo é sempre o medo de ser destruído, destituído, o medo de desiludir-se, de perder-se, de não saber (de cair ou de voar?).
Quase não se pode escrever sobre a fé, ela escapa.

Tenho tido experiências vinculadas à fé, e expresso em palavras que podem, quem sabe, se aproximar:

*Simplicidade (que quer dizer direito de viver: a leveza é força nesse direito).
* Contemplação (que quer dizer não espernear, fazendo-se de vítima, maldizendo o Universo e a própria história). Observação contemplativa, que é como
* Aceitação, mas prefiro contemplação que me remete a observar, a dar-se conta, para poder agir com destreza ou esperar - quando não sabemos o que fazer. Porque eu notei que quando algo nos acontece e não sabemos porquê, grandes são as chances de vir à tona o bebê chorão, e é aí que não descobrimos mesmo o que fazer: viramos vítimas. E a vítima não cria nada novo, só a repetição do vitimismo e muros de lamentações limitantes.
A contemplação também tem a conotação de seguir em frente: como quem observa, contempla e segue para a próxima experiência, tranquila de que tudo está certo (Aí, a Fé!). E então podemos ser livres.

(Eu falo tudo isso como quem está aprendendo. Tive vislumbres dessa realidade.)

Em outros momentos a Fé apresenta-se como *Salto. O salto da fé acontece quando vamos ainda com medo, mas vamos. É quando tem um caráter de ação imediata, sem deixar espaço para a dúvida, é a própria circunstância que age antes de você e você vai junto. O salto é a própria luta, e mais, é o fim da luta. O salto da fé é quando nada e tudo está certo. O salto é uma oportunidade de campo intensivo da fé, do uso da intuição e da literatura dos ventos. É uma escola. Uma iniciação.

É aquele momento em que se a gente não saltar a gente morre, a despeito de tudo e todos poder levar a crer totalmente o contrário. É uma aposta imediata, uma sinapse. Uma impressão de que é um salto, mas é um passo, como um passo de pássaro. Bem simples, mas emocionante.

Ainda mais quando o salto da fé se presenta durante vários dias e todos os dias saltar! Como um professor insistente e amoroso, nesse caso, melhor aproveitar. Bom, nessa altura eu já estou fazendo muita literatura e correndo riscos de perder a simplicidade. O salto é uma impressão da fé e é muito importante para fazer conexões de jogador, desapego, entrega e leveza.

Fé.

Tive uma epifania outro dia: a plena sensação de que independente das ações que eu escolhesse ou que fizesse, essa ou aquela, que, independente das minhas ações, algo me levaria aonde eu tenho que chegar. E de repente todas as minhas ações ficaram com o mesmo peso e relevância (não havia erros), que o que eu tinha que fazer era caminhar, que o meu caminho iria ser tecido da onde eu estivesse.

(é difícil escrever sobre isso, é quase ilegível)

E então houve a suspensão da dúvida, a ascenção da dádiva e a diminuição da dívida: eu era mais leve que no salto.

Qualquer ação e escolha seria acertada porque em qualquer das escolhas será aplicada a mesma informação interior da minha presença e vibração.

A verdadeira liberdade. E assim pode-se tomar decisões, escolher ações, caminhar confiando na vibração da própria existência que já lhe foi concedida.

Quem procura acha,

Com amor,
Talitha B.

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