segunda-feira, 17 de maio de 2010

Saudades em pó

                                                                                               Para Danilo Gois




  No cair da noite
  amanheceu minha saudade,
  transpondo-se em linhas 
  e linhas melodiosas:
  escrevi-lhe.

  Correram as linhas como estradas
  a ultrapassar as margens
  do pardo envelope,
  faces seladas a galope.

  (Lembranças da idade
  a viajar de cidade.)

  E na grande repartição
  Correspondente
  milhares delas esperarão
  na rodoviária de seu destino
  Antes remetente.

  Maria, responsável pela separação,
  de mal-humor acordou
  e no trabalho de um tropeção
  a pilha de cartas derrubou.

  O conjunto de linhas melodiosas
  ao relento e num descuido,
  embaixo do armário
  empoeirado se instalou.

  Rosnou o cão,
  rosnou o tédio,

  latiu à falta do carteiro que não chegou.

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