Numa tarde comum e sonolenta,
Depois do almoço de talheres e ações polidas,
Corriam todos às obrigações puídas
De cansaço e sol e desejo contido da sobremesa,
Quando um cachorro cortou a rua atropelando
Os carros todos, carregando em sua boca um coelho
branco:
Carregava a sorte de todos.
Parou, por entre as rodas e os portões inúteis,
E abriu o coelho, ansioso pelas tripas.
Carregava a sorte de todos.
Parou, por entre as rodas e os portões inúteis,
E abriu o coelho, ansioso pelas tripas.
De estimação, pelo macio e coleira
Prosseguiu seu desjejum incomum e fresco
Diante dos olhares, uns atônitos, outros de esguelha e
Matou quem lhe matava, pelos vermelhos de
satisfação.
Sem relevar nada além de sua fome
Revelou a pedra fundamental
Que segurava o tempo
Dos seres humanos de eterna fome.
Paralisou a todos com tal gesto de selvageria
E amoleceu a concretude das estruturas,
A concretude das razões e das rações.
E amoleceu a concretude das estruturas,
A concretude das razões e das rações.
Levou a sorte de todos.
Sobrando apenas os olhos vermelhos.
Num lugar sem cães. Nem coelhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário