terça-feira, 3 de maio de 2016

A mordida














O meu corpo era meu, o seu corpo era seu, éramos
Pacotes de almas individuais que respeitavam as linhas do desenho visível, 
Éramos livres, unidos através do invisível.
Nosso amor não era físico - era física:
Pensamento, luz, calor, som e o imponderável quântico da alegria.

Havia eternidade e presença, e quase todas as coisas estavam certas - 
Até que a carne rosa das gengivas nos chamou a atenção.

Até a carne rosa das gengivas nos chamar a atenção
E os dentes enfileirados dos risos virarem mordidas:
Já não nos bastavam as batatas, nem a tranquila carne rosa das goiabas,
Já não nos satisfazia as conversas, nem o andamento do tempo, o brincar:
Era preciso ter domínio sobre a matéria, depressa ocupar o mesmo espaço, agora e já.

A carne é sempre crua?
Nossos olhos não mais boiavam tranquilos no cotidiano
Desde que a carne rosa que segura os dentes, nos chamou a atenção:
Que força é essa imune à gravitação?

Aperta a minha mão, sente a gravidade da fome.












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