Diante da goiabeira eu medito à paciência:
Espero as goiabas caírem, e não as como, nenhuma.
Vibro de alegria cada vez que uma goiaba vibra no chão
e não como, nenhuma.
Goiaba espatifada, eu inteira.
Nenhuma goiaba me pertence, nenhuma.
Apenas a maravilha me pertence:
Eu e a goiabeira a desprender.
Debaixo da goiabeira eu medito à fé:
Espero as goiabas não caírem, e não há como,
elas caem, todas -
com mais intensidade do que quando eu não estava embaixo dela.
Quanto mais elas caem, mais eu espero que elas não caiam
E quanto mais espero que elas não caiam, mais me acertam
em cheio e me esvaziam:
Goiabas abertas, eu também.
Em cima da goiabeira eu não medito:
Como não sou mais criança, e ainda temo ser mortal
Em cima da goiabeira eu ainda não medito,
olho os pássaros, autorizados a colher as goiabas da leveza,
aquelas que não caem, e porque anseio
o céu encosta-se a mim e (quase) eu não sinto nada.
É coisa comum, essa de estar abaixo do céu e sentir
ser um pedaço ao léu, creio.
Acima de mim, a goiabeira
Acima da goiabeira, o céu
Em cima de mim, o véu.
Em cima da goiabeira eu ainda não medito,
Mas pode crer, eu acredito
Que num dia, distante da goiabeira, eu meditarei à memória das estações,
como um trem passado, lento, férreo e cheio de goiabas,
e lembrarei, já sem dentes, das goiabas cheias de sementes
e das sementes cheias de goiabas e,
sem comer, estarei finalmente satisfeita.
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