segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O livro dos indícios



I.

Não quero mais ficar de castigo,
e ter que escrever atrás da porta,
da porta de madeira imitada, escondida
atrás da imitação, a natureza deportada.

Não sou traidora, mas irei me entregar

à tradução e prosseguir com o trabalho
da memória sincera na frente da limitação.

Não há mais suspeitos: enfim, livro!

Eis a prova.



II.



Pergunto:
Poderei eu escrever essas palavras?
Seguirei o intuito, leve, levando ao papel todos os momentos em que sou chamada?
Sim,
Seguirei, rápida, o diário intuito de ousar as palavras
Ao chamado do inventário, e ventar sobre a face da Terra
No relatório da passagem do frescor (e da lava).

Nenhuns desses poemas são meus. Nenhum.
Vou coletando, colhendo no meio dos caminhos,
Dor no dedinho, um fio de cabelo solto escrito no chão,
A lágrima que pesquei do seu pecado, um grande circo,
Um cisco caído nos meus olhos mediúnicos, a flor
Que é fruta na letra do poemador.  

Esses poemas não são meus,
Sou encontrada por eles, encantada,
No meio do cotidiano a caminho
Sou chamada e atendo prontamente.
Eu sei: pareço atrasada, é que
Atendo à marca das horas,
a despeito das horas marcadas.
















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