Às vezes
Esse corpo que habito
(ou que habita em mim)
dá medo.
E nem é preciso deitar no papel
Os monstros, as sombras, as sobras...
Apavorada, eu corro!
quero sair dessa casa, eu mato, eu morro!
mas se correr é com as pernas,
mas se falar é com a língua... ah!
e esse corpo que habito
e esse corpo que habito
dá medo,
como pedir socorro? parada?
Parada eu morro de medo!
mas correndo viverei espantada,
fugindo do próprio espírito,
querendo sair dessa casa,
do incômodo, do imóvel, grito
e me mudo:
e me mudo:
se correr é com as pernas..
levarei comigo os motivos
nesse corpo que habito...
e morrerei correndo,
e morrerei correndo,
se eu viver parada...
Por isso
ao ouvir o barulho das correntes
infinitas (que não me prendem)
finjo fugir, finjo ficar -
na hora do espanto incoerente
ando bem devagar.
Depois tudo passa, medito:
em cima do muro
em cima do muro
ou diante do espelho
é cada quarto escuro,
é cada luz que acende!
E cada vez observo, menos parva,
a magnífica casa mal assombrada
a morada
e o parque de diversões.
a morada
e o parque de diversões.