sexta-feira, 26 de abril de 2019

Segurança





Caminho como quem tem uma faca 
cravada no peito: a minha ingenuidade.
- Vai doer muito mais se eu tirar -
Esse estado de palhaço e seus mil anjos
Dentro, fora, acima, abaixo, atrás, à frente.

Soubesse eu aonde daria esse caminho
e o perigo viria me rondar, certamente,
e no momento em que nomear as minhas pérolas,
surgiriam os assaltantes,
eu teria lei!

Por isso passo por cima dos perigos,
como quem desconhece as diferenças
e a sombra também não me diferencia,
em mim confia, não julga, não me atormenta.
Nem deus me atormenta, pois não sei de nada
e aceito o caminho como se tudo fosse normal.

Caminho com todos os meus direitos naturais
e isso é chocante como uma ferida
no entanto,
com a faca já cravada no peito ninguém irá me matar:
é a lei do bom senso .

Eu caminho com meu peito aberto,
sem sofrer, e isso sim é fantástico:
espero o momento de atravessar a rua,
pego o ônibus sem deixar ele me pegar,
faço o caminho errado, encontro poetas,
toco o instrumento do acaso e enfim
estou em casa.





Somos zum.








sexta-feira, 12 de abril de 2019

Cotidiano




Comer arroz todos os dias
e com isso dizer Abundância.

Comer arroz todos os dias
e com isso dizer O que falta.

Comer arroz todos os dias
e com isso dizer Feijão também, por favor, que delícia.

Comer arroz todos os dias
e com isso dizer Pai Nosso que estais no céu, Santificado seja o vosso nome.

Comer arroz todos os dias
e com isso dizer Como? Por quê? Não tem outra coisa, comer atroz!?

Comer arroz todos os dias
e com isso dizer Japão, e que saudades do meu país.

Comer arroz todos os dias,
muito, e por isso mesmo não falar de boca cheia o que só depois encherá a boca para dizer
esvaziando a carteira.

Comer arroz, cometer erros
Comerciais, executivos...
Do prato feito
O self serve-se.

Comer todos os dias
e todos os dias querer.

Comer arroz todos os dias
(mas querer mesmo Dizer).















segunda-feira, 1 de abril de 2019




(O estigma é o risco da palavra.)

O gosto do enigma
mora na ponta da língua,
e aprecio
sem lamber o papel,

Sem me descompor.

Componho e acompanho,
sem enlouquecer.

Escrevo a palavra água,
sem molhar as mãos.

Escrevo beijo,
e ainda durmo à noite.

Que graça,

lamber

o estigma é o risco da palavra.