Eu caminho sobre muitos e muitos ossos, caminho sobre verdadeiros cemitérios, mas não tenho medo. A rua está repleta deles: é meu passado atrapalhando a passagem, é meu passado alavancando a passagem. A rua está repleta de cemitérios, ovos da memória, ossos: a bandidagem. Avisto, me visto e avanço: tudo veio à tona e não há lápides, que aqui não existem mais cerimônias, mas mesmo assim não peso sobre eles, afasto os destroços, fartos. Afasto e ando entre os troços, meu peito é meu manto, respeito as traças, óleo nos olhos e passo no tapete da pureza. A rua está repleta de ossos e a minha história já não me assusta, observo a quebra das conservas. Imagino que não mais preciso me desfazer dos ossos, que já estão bem dispostos na terra, belos e livres, livros humanos, a quem quiser que leia. Lancei ao espaço! E agora passo, não mais os carrego. Cominho sobre os ossos! Dança das caveiras! A rua está repleta, dançam as caveiras atrás de mim e a minha história já não me assusta, me carrega.
Lanço um olhar à leveza e é assim que dança também o meu esqueleto,
mas isso são coisas que não se veem... pois eu tenho carne.
Lanço-me ao espaço e vou!
Lanço-me ao espaço e vou!