segunda-feira, 23 de março de 2020


                                                                                                   
                                                                                                   Para José Reis, em memória.








Fui me despedir de você
e você não estava lá
(a caixa dentro da caixa).

Fui para me despedir de você,
quase todos estavam presentes,
luzes e flores enfeitavam o lugar
e não havia lugar para todos.

Alguns esperavam,
outros te esperavam ver
e você não estava lá,
a caixa dentro da caixa
(a casca dentro da caixa)

que indelicadeza chamar caixão

Não havia lugar para todos
mas todos estavam em seu lugar,
posto que você já não estava
lá, a casca só, dentro da caixa,
você do lado oposto.

Para onde havia ido, meu amigo?

Para onde havia que eu não via,
meu amigo? Por qual buraco havia saído?
Por qual via?

Admirei seu figurino bonito, o corpo da memória,
a verdade triste e velha na grande caixa de madeira nova.
Lembrei de suas andanças, seu bigode pretinho,
sua presença fina, aguentando firme as forças misteriosas,
lembrei do passado, e você já estava de presente aberto,
espírito livre, cantando outras paisagens.

Assim espero.

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