sábado, 31 de dezembro de 2011

Sobre areia (e pérolas)

"— Porra! — gritou.
Amaranta, que começava a colocar a roupa no baú, pensou que ela tinha sido 
picada por um escorpião.
— Onde está? — perguntou alarmada.
— O quê?
— O animal! — esclareceu Amaranta.
Úrsula pôs o dedo no coração.
— Aqui — disse."       
                                 Cem anos de solidão. Gabriel García Márquez









Atrasada nasceu.
Querer não queria abandonar o líquido aminiótico,
Foi dada como morta -
Enganando o sistema óptico.

Desfrutou de algumas horas de paz
e mergulho.
Dela não se esperava mais nada:
Entulho.

Mas daquele ventre rasgado chorou,
Tentativa de unidade sem fundo,
Com lágrimas e leites auxílio tomou
Ainda envolta em sal fecundo.

Colecionou areias para brincar com ampulhetas.
Nada adiantaria seu atraso em hora certa.
Patenteou sua praia.

Enganava a todos facilmente...
Espremia laranjas carinhosamente:
Macerando bruta cada semente.
Cega não era, lia em braile
Começando pela ponta da pele
Atrás da orelha, parte surda
E que emudece a lingua em meio à cera.
Transformava homens em lesmas sem querer.
Salvava-os em seguida com o ardido dos olhos
A desejar lagartas.

Nada adiantaria seu atraso em hora certa.
Treinou sua morte enterrando os pés na terra.
Assim como as minhocas, 
Sobreviveria.

Fez sua trajetória pelo tempo-espaço
Sem moral,
Disfarçando as memórias, até
rebelde,
Esquecer-se de morrer.

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