segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Conforto sonoro

    O necessário, o reconfortante silêncio. E esse silêncio não é simplesmente a ausência de sons, é a pausa de sons e informações especialmente direcionados a você e que lhe empanturram, sabe? É aquele momento em que se ouve tudo, e é um tudo que provoca e ao mesmo tempo traz respiração, é lindo. É um tudo que continuará a existir se ninguém estiver ouvindo... e no entanto você ouve e sente o silêncio. A garrafa térmica de café que assobia por conta da pressão interna; a sacola do lixo da cozinha que solta barulhinhos e são formigas; os gritos de um bêbado no bar da frente; o truco-ladrão no vizinho.
    É também aquela sensação que fica após horas de conversa com um amigo, fios longos que são guardados sem terminar mas deixam a impressão de completude impensada... e vai andando pela rua com leveza e muita coisa que se agitava dentro se acalma, silencia, e você sabe que aquilo vai se agitar outra vez, mas não se sente só.
    Chega em casa e vai até a vizinha para observá-la a comer biscoitos salgados e aprende sua maneira metódica de comer cada um, sempre quebrando as pontinhas do quadrado biscoito com os os dentes antes de devorá-lo com a boca. E como fala essa pessoa! Quebrando as regras da boca cheia, farelos ficam grudados em seu batom vermelho enquanto come e fala a vida. E lá continuo silenciosamente com exclamações incentivadoras até que se esvazie o pacote. Um por um o biscoito era devorado e a fome tornou-se poética, tão simples, e o barulho da mastigação soava divertidíssimo em meio às buchechas que cresciam e se moviam. Cênicas.
    O silêncio, aquele durante a faísca de uma grande ideia e seu esboço, sabe? A pequena pausa da descoberta. Descobrir e (é)  também ser descoberto. Analogias. Descobrir o sétimo erro do jogo, e sem querer! O nascer do poema e sua paciência.
  

Um comentário:

Lucas Alves Ferreira disse...

Thaly, você está arrasando.